GEISEL: “BOLSONARO É GOLPISTA” Escrito Por Rui Leitao 

GEISEL: “BOLSONARO É GOLPISTA” Escrito Por Rui Leitao

Quando alguém classifica o presidente como “golpista”, sofre de imediato revides irados chamando-o de “comunista”, “esquerdopata”, “petista” e outros adjetivos comumente utilizados pelos seus seguidores. Esquecem que durante anos o “mito” mostra-se saudoso da ditadura militar, num flagrante desejo de ruptura da ordem democrática no país. Faz publicamente homenagem a torturadores famosos que atuaram nos “anos de chumbo, página negra da nossa História.

O que diriam eles ao tomar conhecimento de que em 1993 o general Geisel, quarto governante na ditadura militar, numa entrevista concedida aos pesquisadores Maria Celina de Araujo e Celso Castro, censurava o então deputado Jair Bolsonaro por pregar insistentemente a volta do regime de força que se instalou em 1964. Já naquela época Geisel destacava o desprezo do parlamentar pela democracia. Seria engraçado vê-los tachando o ex-presidente de “comunista”.

Ele afirmava, inclusive, que Bolsonaro foi um mau militar. Em trechos da entrevista declara: “militares devem ficar fora da política partidária, mas não da política geral”. E segue afirmando: “todo político que começa a se exacerbar em suas ambições, logo imagina uma revolução a cargo das Forças Armadas”. Estamos vendo algo parecido no momento.

E continua: “”Neste momento em que estamos aqui conversando, há muitos dizendo: ‘Temos que dar um golpe. Temos que voltar à ditadura militar!’ E não é só o Bolsonaro, não! Tem muita gente no meio civil que está pensando assim. Não contemos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar”.

Depoimento forte de um dos mais importantes mentores da ditadura militar. Por conseguinte, um general reverenciado pelo atual presidente. E então? Dirão que Geisel era um mentiroso, um esquerdista que se infiltrou nas hostes da direita, como ele costuma atacar os que o chamam de golpista?

Um ex-capitão de poucas luzes tenta convencer as Forças Armadas a ingressarem numa aventura golpista como profetizou Geisel. Buscando se proteger na presidência colocou vários generais em cargo estratégicos do governo. E blefa, proclamando que conta com o apoio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, no seu projeto intervencionista. Ao mesmo tempo, incita seus apoiadores a realizarem manifestações públicas antidemocráticas e inconstitucionais.

Ao que se percebe os militares atuais, que têm boa formação intelectual e perfil democrático, não estão interessados em embarcar nessa empreitada maluca. Afinal as Forças Armadas são instituições do Estado, e não do Governo. Portanto, não devem obediência ao inquilino do Palácio do Planalto. Eles, igualmente ao ex-presidente Geisel conhecem sua biografia, especialmente quando integrou o Exército, onde protagonizou, inclusive, uma ação terrorista que arquitetou planos de explodir bombas em quarteis e outros locais públicos do Rio de Janeiro.

Gostaria de conhecer a opinião dos bolsonaristas em relação a essa entrevista de Geisel. Só não podem dizer que ela não aconteceu. É hoje um documento histórico.

www.reporteriedoferreira.com.br    Rui Leitão




“FARINHA DO MESMO SACO” : Escrito Por Rui Leitao 

“FARINHA DO MESMO SACO” : Escrito Por Rui Leitao

 

Quando duas pessoas têm características comportamentais idênticas, moralmente reprováveis, costumamos dizer que são “farinha do mesmo saco”. Essa expressão tem origem latina: “homines sunt ejusdem farinae”, que quer dizer “são homens da mesma farinha”. Em outras palavras, ainda seguindo a linguagem da sabedoria popular, “um pelo outro, não quero troca”, pertencem à “mesma laia”.

Interessante uma música do compositor e cantor Marquinho Lessa que em sua letra traz uns versos que se enquadram perfeitamente nesse tema. Ele diz assim: “Chega fazendo promessas. A gente acredita e banca o pato. Pátria amada brasileira. Vai caindo no buraco. Boi no pasto delatou. Se mandou, saiu à jato. Na suprema avenida, compensou esse teatro”. Parece até que ele estava narrando os episódios políticos que assistimos ontem.

A guerra sem tréguas teve início. Duas altas personalidades da vida política nacional trocaram acusações graves publicamente. A analisar pelos discursos de ambos, não há inocente nesse jogo. De repente passaram a ser críticos severos um do outro. Conhecendo a biografia dos dois, concluimos que nenhum deixa de ter razão. São realmente responsáveis pelas denúncias recíprocas. Não há diferença entre eles.

A ruptura, até certo ponto surpreendente, se deu em razão de uma batalha de “egos”. Não conseguem se desvencilhar das vaidades exacerbadas. Estão disputando atenção. Colocam os interesses pessoais acima das demandas coletivas. Cada um se achando dono da verdade. Sequer respeitam a grave crise que o país enfrenta por conta da pandemia do coronavírus.

A torcida que vestia a mesma camisa verde-amarela da CBF e que estava no mesmo setor de arquibancada, foi convocada a se posicionar entre um e outro. O que se vê nas redes sociais desde ontem, são militantes políticos que “rezavam na mesma cartilha”, agora se degladiando. Agressões verbais dirigidas num combate nascido entre antigos correligionários.

Os que sempre se mantiveram no campo da oposição, assistem ao embate sem torcer por nenhum dos dois. Exatamente porque os consideram “farinha do mesmo saco”. Porém acompanhando com atenção as revelações contundentes do que vinha acontecendo nos bastidores palacianos. Há algo de “podre no reino da Dinamarca”. Eles mesmos estão se encarregando de explicitar a degradação ética e moral do governo.

É lamentável. Mas, até nas ocorrências indesejáveis, é possível tirar algo de positivo. As máscaras estão sendo tiradas por eles próprios. O “rei está nu” e o seu antigo ministro se emporcalhando na lama da promiscuidade política. Esperemos as cenas dos próximos capítulos.

Rui Leitão




O JOGO DO “MORDE E ASSOPRA”: Escrito Por Rui Leitao

O JOGO DO “MORDE E ASSOPRA”: Escrito Por Rui Leitao

A expressão “morde e assopra”, segundo pesquisadores, tem origem na observação de como os morcegos agem quando atacam suas vítimas para sugar seu sangue sem que elas percebam. Eles têm uma saliva anestésica que permite aliviar a dor da ferida causada após soprá-la. Essa tática tem sido usada por alguns políticos contemporâneos. Dizem ou fazem algo num dia, e, no outro, ao perceberem a repercussão negativa de sua atitude, tentam minimizar os efeitos ruins do seu procedimento da véspera.

 

Quando a gente vê um político fazendo o jogo do “morde e assopra” no seu comportamento cotidiano, ficamos na dúvida se ele adota essa postura por estratégia para conseguir o que quer, ou se na verdade ele sequer sabe o que quer e o que diz. A dubiedade que caracteriza a sua forma de lidar com as situações que lhe compete emitir opinião ou adotar ações proativas, induz a opinião pública a perceber a sua incoerência recorrente.

 

Alguns, por uma carência de aplausos, se comportam ao sabor das emoções eventuais, de forma a satisfazer grupos que os elegeram para cumprir missões, muitas das vezes insensatas e até impossíveis. Por isso, no primeiro momento fala aquilo que seus admiradores gostariam de ouvir. Todavia, pouco depois, ao descobrirem que cometeram um ato falho, se apressam em desdizer o discurso antes pronunciado. Atacam, “mordem”, por impulsos circunstanciais, mas rapidamente negam o que açodadamente falou no ontem.

 

Esse comentário tem a ver com as ocorrências políticas do domingo passado. O presidente, ao tomar conhecimento de que uma pequena aglomeração de manifestantes se localizava em frente ao quartel general do exército em Brasília, decidiu ir ao encontro dos seus seguidores. Ali chegando, estimulado pela demonstração de apoio dos fanáticos militantes da ultradireita brasileira, não avaliou as consequências do seu ato, subiu em um veículo e proferiu o discurso que os ativistas desejavam escutar. Entre os manifestantes eram visualizados faixas e cartazes antidemocráticos que pregavam o fechamento do Congresso e o STF, além da reedição do AI5.

 

Um chefe de nação responsável jamais teria entrado nesse jogo. Ele fez exatamente o contrário do que recomenda o bom senso que deve prevalecer no comportamento de um presidente da república. Incitou os aglomerados e, por conseguinte, seus admiradores do resto do país à desobediência civil, não só às recomendações médico-científicas para o enfrentamento da crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus, como também às práticas democráticas que a nossa Constituição preceitua.

 

“Mordeu” ontem para hoje tentar “assoprar”, ao considerar o grave desatino protagonizado publicamente. Já não se revela qualquer surpresa o seu procedimento. Faz parte da sua personalidade ambígua. A pergunta que não quer calar é até quando as instituições democráticas vão admitir passivamente esse estilo de governar o país, ultrapassando todos os limites de comedimento e compostura exigidos pelo cargo que exerce.

www.reporteriedoferreira.com.br     Escrito Por Rui Leitão- advogado e escritor




O CONFLITO DO “ELES” CONTRA O “NÓS”: Escrito Por Rui Leitao

O CONFLITO DO “ELES” CONTRA O “NÓS”: Escrito Por Rui Leitao
A crise provocada pela pandemia do coronavirus tem acentuado o conflito do “eles” contra o “nós”. Esse confronto, principalmente em nosso país, é histórico. O mapa da desigualdade social sempre foi conhecido por todos. Ocorre, porém, que agora ele se mostra mais evidente, considerando as condições de vulnerabilidade de boa parte da população que vive em situação de pobreza. Consequentemente serão as classes sociais menos assistidas pelos poderes públicos, as mais atingidas pelas trágicas ameaças do vírus.Como se não bastasse esse quadro extremamente desigual em nossa sociedade, estamos também sendo atacados por um acirramento de ânimos causado pela radicalização político-ideológica e a intolerância.
O Brasil, além de dividido entre pobres e ricos, está também fracionado por conveniências dos que detêm o poder político ou econômico. Paixões e ambições pessoais se colocando acima da racionalidade.Divergências posicionando brasileiros em campos distintos, conforme seus interesses mais imediatos. Enquanto a grande maioria entende que a prioridade é salvar vidas. Por isso as decisões, por orientação médico-científica, em determinar o isolamento social, com o objetivo de minimizar a contaminação, e, por consequência, evitar um colapso no sistema de saúde de cada cidade.
Outros, situados no campo da dinâmica econômica, preferem optar pela preservação dos seus ganhos, ainda que colocando em risco a vida deles próprios e da população como um todo.Mais grave ainda é verificar que o conflito se transfere para os gestores públicos. É perceptível o embate que se verifica entre os diversos níveis de responsabilidade institucional. Enquanto quase a totalidade de governadores e prefeitos fez opção pelo atendimento às recomendações da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde do país, decretando a prática do distanciamento social. Outros, incluindo aí o presidente da república, partem para definição de uma campanha contra essas determinações de isolamento social, por temor de prejuízos à economia nacional. A briga tornou-se política, lamentavelmente.De um lado, “eles”, os poderosos preocupados com a ambição por ganhos financeiros.
Do outro, “nós”, os que entendem que, antes de tudo, deve prevalecer a luta por salvar vidas. A retórica e as atitudes do chefe da nação, entretanto, ganham força de exemplo negativo para a sociedade, fazendo com que muitos passem a compreender que o coronavirus não é tão assombroso assim. Insiste em afirmar que é apenas uma gripezinha.Enquanto esse embate se estabelece, o vírus continua sua marcha acelerada de contágio, exigindo atenção médica redobrada. Ainda bem que a grande maioria dos gestores públicos de nosso país está se comportando com a responsabilidade que os cargos lhes conferem. E enfrentam corajosamente a insensatez dos poucos que teimam em estimular a desobediência ao isolamento social e cometem absurdos contra as regras de saúde.
Parcela do empresariado, acompanhada por fanaticos, em alinhamento ao posicionamento crítico do presidente da república em relação às medidas preventivas adotadas pelos govenadores e prefeitos, continua reivindicando o fim da quarentena, indiferente às estatísticas alarmantes que já se expressam na contagem de pessoas infectadas ou mortas por conta da pandemia. É o “achismo” duelando com a “ciência”. A pandemia chega para testar a capacidade de mobilização dos que estão do lado do “nós”, contra os que desprezam o valor da vida, em nome da manutenção do status econômico e financeiro, “eles”. Ouçamos, então a voz da ciência e permaneçamos sem sair de casa. Façamos com que o “nós”, pela primeira vez, vença o grupo minoritário formado por “eles”, os poderosos desatinados.
www.reporteriedoferreira.com.br   Escrito Por Rui Leitão- Escritor



O NEGACIONISMO OFICIAL: Escrito Por Rui Leitão

O NEGACIONISMO OFICIAL: Escrito Por Rui Leitão

 

É preocupante a crise de confiança na ciência que estamos vivenciando nos tempos atuais. A descrença no conhecimento científico tem se manifestado, surpreendentemente, em indivíduos com boa formação cultural. O clima de ceticismo é propositadamente estimulado por lideranças interessadas em difundir o obscurantismo. O fenômeno do pós-verdade influenciando a opinião pública.

A mentira sendo usada se forma oportunista, desprezando evidências apresentadas com argumentação científica. O negacionismo procura contestar verdades produzidas pela ciência.

Mas há interesses econômicos e políticos por trás dessas afirmações. Semeando a dúvida gera controvérsias que se fazem necessárias para alcance de objetivos escusos. Produz debates que não respeitam o senso de honestidade. Mídias alternativas manejadas irresponsavelmente por especialistas em fakenews.

O negacionismo sendo oficializado nos gabinetes dos detentores de poder. Declarações estapafúrdias de personalidades do governo são amplificadas na tentativa de germinar inverdades no terreno fértil da desesperança do povo. E muita gente nem se envergonha mais em defender publicamente os absurdos proclamados. Vejo pessoas que eu julgava com bom nível de Inteligência “convencidas” de que “a terra é plana”, ou que essa crise sanitária do coronavírus é uma “pandemia falsa articulada por comunistas”. Chega a ser risível, ainda que trágico tudo isso. Enxergam conspiração política onde não existe. Tudo que contraria seus conceitos político-ideológicos é complô de inspiração marxista. Não percebem que a intenção é conquistar público que dê apoio a políticas desastrosas para a coletividade, atendendo as demandas da elite.

Autoridades sem qualquer credencial técnico-científica enunciam “verdades” que não resistem ao mínimo de fundamentação lógica. O papa Francisco, em sua encíclica “Laudato Si” diz que “essa é a forma como o ser humano se organiza para alimentar todos os vícios autodestrutivos: tenta não os ver, luta para não os reconhecer, adia as decisões importantes, age como se nada tivesse acontecido”. Isso é bem o que estamos assistindo no Brasil.

www.reporteriedoferreira.com.br     Escrito Por Rui Davi Leitão- Advogado e Escritor




O ACHISMO CONTRA A CIÊNCIA: Escrito Por Rui Leitao

O ACHISMO CONTRA A CIÊNCIA: Escrito Por Rui Leitao

 

A estupidez humana insiste em ignorar a ciência. Muita gente continua tomando decisões na base do “achismo”. Convicções pessoais rejeitando resultados de pesquisas técnicas. A cegueira ideológica prevalecendo nos tratamentos de saúde que merecem uma orientação científica. A ignorância do fanatismo determinando procedimentos.

A crise sanitária provocada pela pandemia do coronavirus nos coloca diante da realidade inquestionável de que devemos obedecer às orientações científicas. A inobservância disso resulta num alto custo de vidas. Correntes reacionárias e mentes obtusas resistem a compreender que a ciência vale mais do que o “achismo”. Evidências técnicas são desafiadas irresponsavelmente, muitas vezes por paixões políticas. Esse movimento anti-ciência não pode prosperar.

Quem ataca a ciência, ataca a verdade. Precisamos sair da era do “achismo”. No campo das opiniões não chegaremos a lugar nenhum com chances de acerto. Conhecimentos são gerados a partir de pesquisas científicas. Tentam legitimar discursos na descrença e no revisionismo da História, reformulando memórias comprovadas que nos ensinam encarar as verdades que nos instam a pensar o amanhã refletindo a experiência do ontem.

O “achismo” é aquela ideia do quase certeza. Não tem base de sustentabilidade, vazio de conteúdo. Perigosamente em qualquer contexto. Não podemos perder o rumo da verdade. A dúvida é motor da ciência. É preciso ter cuidado com informações veiculadas pela mídia distorcendo achados científicos. Indispensável a verificação da realidade. Nunca deixar sofrer influência por crenças religiosas ou pessoais. Exercitemos nosso olhar para questionar tudo aquilo com o qual nos deparamos.

Não há revolução baseada no “achismo”. Estaremos perdidos quando acharmos que a ciência é desnecessária, achando que ela se restringe á mera opinião. Só a ciência nos leva ao “como” ao “porque”. Sejamos então capacitados a compreender o conflito entre a razão e a emoção, muito mais em situações de conflitos como estamos vivendo. A ciência não pode perder para o achismo.

www.reporteriedoferreira.com.br  Por Rui Leitão




FOI SIM UMA DITADURA: Escrito Por Rui Leitao 

FOI SIM UMA DITADURA: Escrito Por Rui Leitao

Me impressiona ver alguns fanáticos da direita negarem as verdades históricas que os incomodam. Questionar que tenhamos vivido um período de ditadura militar é, no mínimo, uma ofensa às famílias que perderam seus parentes pelo arbítrio do regime a que fomos submetidos por 21 anos. Esse negacionismo estimula a violência, ao relativizar as atrocidades praticadas durante esse tempo. Não consigo compreender como alguém consegue justificar as mortes e os desaparecimentos ocorridos por motivações meramente políticas dos que governaram o nosso país nas duas décadas após o golpe de 1964.

A repressão era exercida como forma política de Estado. Versões eram forjadas para a promoção de torturas e até assassinatos daqueles que consideravam subversivos. Por mais que não queiram, são violações de direitos humanos que podem ser consideradas crimes contra a humanidade. É impossível ocultar seus efeitos traumáticos. Achar que 434 mortes ou desaparecimentos é uma estatística insignificante para classificar os governos militares do século passado como ditadura, é desrespeitar o valor de vidas humanas.

Foi, indiscutivelmente, o pior momento da história brasileira. Estruturas clandestinas de repressão política foram criadas. O DOI-CODI prendendo, interrogando e torturando, e o SNI fazendo espionagem e censura. A institucionalização do castigo aos adversários políticos. Chegaram ao cúmulo de suspenderem o direito de habeas corpus para quem fosse acusado de crime político. Os mecanismos punitivos que tinham em mãos eram perversos. Universidades foram invadidas e artistas sequestrados.

Mas o governo vendia a imagem de um país que estava dando certo. Por isso muita gente insiste em lembrar positivamente daquela época. A propaganda política fez a cabeça da população que não tinha acesso às informações do arbítrio que imperava. Estrategicamente procuravam não dar visibilidade à repressão. A voz da resistência era silenciada nos porões da ditadura e ninguém denunciava isso.

Os arquivos secretos da ditadura que ficaram inacessíveis até pouco tempo, revelaram a sua face cruel desconhecida. Foi resgatado o direito à verdade histórica. Não há como contestá-la. Conhecendo a História evitamos que acontecimentos ruins sejam repetidos. A luta pela democracia não pode permitir que esqueçamos o que aconteceu naquele período. A tentativa de revisionismo da ditadura não encontra amparo nos fatos comprovados na historiografia por documentos e testemunhos. Não é uma questão de interpretação histórica, são evidências que não autorizam a negação da verdade. Não há como deixar de reconhecer que houve quebra da ordem democrática, no uso da violência e do desrespeito aos direitos humanos.

www.reporteriedoferreira.com.br    Por Rui Leitão-




A MORTE QUE INCENDIOU O BRASIL: Por Rui Leitao

Texto publicado na edição de hoje do jornal A UNIÃO

A MORTE QUE INCENDIOU O BRASIL: Por Rui Leitao

Há exatamente cinquenta e dois anos, num final de tarde, alguns estudantes planejavam uma passeata programada para o dia seguinte, exigindo melhorias nas condições de higiene do restaurante Calabouço, localizado no Aterro do Flamengo, quando policiais invadiram o local usando da violência. Os estudantes secundaristas que diariamente jantavam ali, foram surpreendidos com o ataque e tentaram se defender reagindo com o arremesso de pedradas. Foi o suficiente para que disparassem vários tiros contra eles.

Entre os estudantes presentes, estava o jovem de dezesseis anos, Édson Luís de Lima Souto, atingido por uma bala no peito que lhe causou morte imediata. Viria a ser o fato determinante de uma grave crise que viveria o país. O corpo do estudante foi levado nos ombros pelos colegas até a Assembleia Legislativa onde passaria toda a noite sendo velado por milhares de pessoas, num clima de muita tensão e revolta. Os teatros cariocas, ao tomarem conhecimento do assassinato, suspenderam seus espetáculos e convocaram os expectadores a participarem do velório.

O enterro do estudante foi acompanhado por mais de cinquenta mil pessoas, cujo cortejo percorreu várias ruas do Rio de Janeiro, recebendo a solidariedade da população por onde passava. Iniciava-se, naquela oportunidade, em todo o Brasil, um período de grande agitação que perdurou por todo o ano de 1968.

Em João Pessoa os estudantes do Liceu realizaram comício relâmpago em frente ao colégio, na Avenida Getúlio Vargas, no momento em que Édson Luís era sepultado. Discursos inflamados das lideranças estudantis paraibanas defendiam a decretação de uma greve geral em solidariedade ao movimento paredista que sinalizava acontecer em todo o Brasil. A manifestação foi improvisada pelos alunos do curso noturno do Liceu, mas logo recebeu a adesão de outros educandários e dos que frequentavam as escolas no período diurno.

A vida brasileira foi incendiada por sucessivos acontecimentos que envolviam não só estudantes, mas também os intelectuais e as organizações sindicais. Na Paraíba não foi diferente. Os estudantes nas ruas e a repressão do governo acontecendo, de forma violenta, constituíram=se marcos históricos do enfrentamento à ditadura militar em nosso Estado.

O assassinato do estudante Édson Luís causou forte repercussão nos meios políticos. A Assembleia Legislativa da Guanabara, para onde o corpo foi levado e permaneceu até a hora do sepultamento, abriu sessão em caráter extraordinário com sucessivos e exaltados discursos dos parlamentares em solidariedade aos estudantes que ocupavam as escadarias do edifício, na Avenida Floriano Peixoto.
Osmar de Aquino em discurso na Câmara Federal, afirmou: “A juventude que tem sido a grande vanguarda da libertação nacional, tem sido vítima de uma real perseguição. É a luta do velho contra o novo, do reacionarismo mais primário contra o futuro”. Na Paraíba, o deputado estadual Mário Silveira em discurso declarou: “Esses arreganhos de prepotência, esses insultos ao direito do homem e do cidadão, são uma prova de que este dispositivo montado em 1964 está sofrendo um processo de decomposição”.

A comoção nacional continuava. As agitações estudantis deixavam o governo em regime de alerta. O movimento ganhava apoio importante de parcelas da sociedade que passavam a reconhecer os estudantes como seus representantes nas manifestações de oposição ao regime. A tragédia do Calabouço potencializou a insatisfação geral contra a ditadura.

www.reporteriedoferreira.com.br    Rui Leitão




O PÓS-CORONAVIRUS: Escrito Por Rui Leitao

O PÓS-CORONAVIRUS: Escrito Por Rui Leitao

A pandemia do coronavirus que está nos atacando, pode ser o marco do início de um novo ciclo da humanidade. O planeta terra foi pego de surpresa e todos os povos, com as suas diferenças, se mostram assustados porque se viram incapazes de enfrentar o inimigo comum que surgiu. E pior: um inimigo invisível, até então desconhecido. Desafiando a ciência, o vírus, numa rapidez impressionante, revela-se um invasor com enorme potencial destrutivo. Deus tem o controle do universo e é Senhor dos tempos. Não há explicação natural para o que está acontecendo. Estamos sendo postos à prova.

Inesperadamente o mundo parou. O vírus pôs medo, sem distinguir ricos e pobres. Obrigou as populações a adotarem o isolamento social como escudo de proteção. Promoveu a horizontalidade na vulnerabilidade humana quanto à contaminação que ameaça a vida. Seu alcance letal atinge sem distinguir classes sociais, econômicas ou políticas. Os que se imaginavam poderosos manifestam-se igualmente amedrontados, porque não estão imunes á sua malignidade.

O confinamento em massa está exercendo um efeito didático par o ser humano. A sociedade está sendo cobrada a fazer uma reflexão profunda sobre o seu modo de viver. Reclusos em nossos lares, sem sabermos inclusive por quanto tempo, nos vemos forçados a rever valores, considerar a solidariedade como força motriz para que enfrentemos o novo tempo, a principiar o “after day” da crise sanitária que estamos vivendo.

Não quero nem entrar no debate das questões econômicas que a epidemia vai suscitar. Prefiro me ater à análise do aspecto comportamental da humanidade. Ainda que a ciência possa sair vitoriosa no período pós-coronavirus, entendo que o ganho maior será na compreensão e na consciência de que deveremos redirecionar nosso caminho evolutivo. Estamos sendo acordados para uma nova realidade, que requer um olhar íntimo reconhecendo nossas limitações e imperfeições, respeitando a diversidade na experiência humana. Reunidos no ambiente do lar, como não fazíamos há muito tempo, seremos convidados a reavaliar a importância da vida no espirito de fraternidade, valorizando a convivência em família.

Essa transição no tempo não se limita a nós mesmos, mas em conjunto com os nossos semelhantes. A preocupação que deve nos dominar não deve se restringir às medidas de controle sanitário, mas também ao exame de quanto temos estado até agora presos ao egoísmo e à indiferença com a sorte dos que não são favorecidos com as políticas púbicas. Desprezemos o falso deslumbramento com nosso prestígio pessoal no ambiente que nos cerca.

O coronavírus nos faz perceber o quanto nossas vidas são frágeis. No conforto da meditação que o confinamento nos impõe, experimentamos um exercício mental que nunca tínhamos tempo de fazer. A convivência afetiva com os nossos mais próximos, certamente reavivam sentimentos e atitudes que estavam relegados a segundo plano: o amor, a parceria, a mutualidade, a cooperação recíproca. Venceremos essa fase de segregação, acordados para nos interrogarmos se nossa existência deve se resumir ao trabalho, aos prazeres e á necessidade de buscarmos prosperidade econômica e financeira e sucessos individuais.

O dia seguinte ao coronavírus nos mostrará que “nada será como antes”. Toda transformação oferece oportunidades de se tornar algo que nunca existiu. Os sobressaltos que nos ameaçam são ensinamentos que permitem revisão de pensamentos e conceitos sobre razão de viver.

www.reporteriedoferreira.com.br     Rui Leitão




O PODER: Escrito Por Rui Leitao

O PODER: Escrito Por Rui Leitao

Em qualquer que seja o marco institucional o poder tem a ver com prática política. É o momento em que o indivíduo assume a autoridade que lhe dá direitos de agir, mandar, deliberar, decidir. Passa a ter a capacidade de impor sua vontade sobre os outros. Essa é a razão pelo qual tanto fascina e tanto atrai.

Ocorre, no entanto, que nem todo mundo está preparado para exercer o poder. Muitos ao serem alçados a qualquer posto de comando imaginam-se seres superiores, mudam a personalidade, olham os subalternos com ares de supremacia, revelam seu verdadeiro caráter. Normalmente, são pessoas inseguras, que se desequilibram com facilidade quando estão diante de alguém que lhes imponha respeito pela postura ética ou pelo nível de inteligência. Detestam críticas.

O poder legítimo é aquele que praticado pela competência, pelo senso de justiça, pelo carisma, pela ausência de prepotência e arrogância. A autoridade não se impõe, se conquista. É reverenciado pela capacidade de se fazer amado, não pela força que causa medo. Sabe que o poder é efêmero, daí não ter receio de perdê-lo.

O temor de ser destronado da posição de mando faz o detentor do poder ficar vulnerável à prevaricação, às negociatas, à desonestidade, desde que tais atitudes facilitem a sua permanência no cargo que eventualmente ocupa. Os fracos de espírito são desprovidos de consciência moral para renegarem as tentativas de suborno e de aliciamento e caem nas armadilhas da corrupção. Detestam quem lhe lhes faça sombra, porque não têm auto confiança para enfrentarem a competitividade.

Os que têm vocação para déspotas, ditadores, absolutistas, crêem que representam o Bem contra o Mal, e nada que divirja do seu pensamento pode ser aceito como verdade. Por isso são cercados de bajuladores, subordinados que são hábeis na adulação e nas louvações.

Conheço muita gente que ao perder a autoridade entrou em depressão, vivenciando a ressaca da embriaguez do poder.

www.reporteriedoferreira.com.br      /Rui Leitão