UM DICIONARISTA DE “PALAVRÕES”  Por Rui Leitao

UM DICIONARISTA DE “PALAVRÕES”  Por Rui Leitao
O vocabulário do atual presidente da república, além de muito pobre, é chulo, grosseiro, agressivo, desrespeitoso, insultuoso. Não condiz com a estatura do cargo que exerce. Mostra-se uma personalidade pública com nível cultural abaixo do que se espera de alguém que tem a missão de governar uma nação. Sempre que é instigado a falar de assuntos mais complexos, esquiva-se e volta a sua artilharia verbal aos que identifica como inimigos, e se excede no uso de “palavrões”, xingamentos, ofensas, porque não dispõe de conhecimento para o debate sério, inteligente, argumentativo.
Aplaudido por admiradores que o chamam de “mito”, molda seus discursos na conformidade do que deseja sua militância política, representada fortemente por uma parcela do conservadorismo moral, punitivista, contrário aos direitos humanos. Quando se sente acuado parte para a produção de bravatas, ameaças, na tentativa de provocar intimidação. E o faz de forma indelicada, utilizando-se de uma linguagem inapropriada para quem deveria se portar como um estadista e incompatível com o que se entenda como posturas civilizadas de um governante.
Percebe-se nitidamente a falta de amadurecimento intelectual nas suas declarações sobre qualquer tema a que seja convidado a se manifestar. Essa é uma característica marcante da sua personalidade. Esmera-se na prática de um obscurantismo rudimentar, como bem classificou o jurista Miguel Reale Junior. Cuida em alimentar o factoide de ser um mito, mesmo revelando-se um dicionarista de “palavrões”. Impressiona a incoerência dos conservadores brasileiros quando não se escandalizam com o linguajar chulo do presidente, desrespeitando o ambiente em que seja convidado a proferir um discurso.
Causa perplexidade observar que as palavras de baixo calão repetidas à exaustão pelo presidente da república, não causem constrangimento e preocupação a alguma figuras proeminentes da estrutura político-administrativa do país. Não estou aqui assumindo uma posição de puritanismo, mas de apelo à moderação discursiva do principal líder da nação, adotando um comportamento de decência enquanto no exercício da função de maior autoridade do país. É uma questão de sadia mentalidade, obediência à ética na atividade pública e compromisso com os valores que a sociedade considera voltados para a moralidade.
As agressões verbais com a intenção de ridicularizar, humilhar, ameaçar ou manipular, não podem ser admitidas como algo normal quando proferidas por quem tem a responsabilidade governar ou liderar. De um detentor de eventual poder político se exige comportamento pautado em princípios humanistas e cívicos, que servirá de exemplo para seus governados.
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A guerra institucional Por Rui Leitao 

A guerra institucional Por Rui Leitao

Aguerra institucional que estamos assistindo no Brasil vem sendo provocada pelo chefe do poder executivo, que insiste em desrespeitar princípios constitucionais. Desde o início do seu mandato, o presidente da república promove ataques sistemáticos às instituições democráticas, incitando a desobediência civil.

Esquece o chefe da nação que nem o voto, nem a Constituição, lhe conferem poder absoluto. Ele teima em não respeitar os limites impostos por nossa Carta Magna, O cenário dessa crise se agravou nos últimos dias com as acusações, sem provas, de que o atual sistema eleitoral com uso de urnas eletrônicas, é passível de fraudes, responsabilizando, inclusive, ministros do STF e TSE por práticas ilícitas na intenção de prejudicá-lo nas futuras eleições.

Na minha compreensão a reação enérgica e necessária demorou a acontecer. E isso passava a falsa impressão de que as bravatas proclamadas representavam demonstração de que a ele estava garantido o poder de fazer o que quisesse, como se estivéssemos vivendo um regime autocrático. A velha história, já conhecida, de que, pela ameaça, o governante consegue impor suas vontades, mesmo que contrariando as regras que estabelecem o sistema democrático que a Constituição de 1988 nos oferece.

Um país verdadeiramente republicano não pode admitir tal “estado de coisas”. Fazer vista grossa a essa rotineira afronta às instituições, pode ser considerada ato de cumplicidade, covardia e omissão, com graves conseqüências para o Estado Democrático de Direito. Percebe-se uma indisfarçável vocação para o autoritarismo. Revela-se um promotor de discórdias, estimulando a afirmação de um ambiente de guerra fratricida. Enfrenta, de forma agressiva, governadores, prefeitos, ministros, parlamentares, jornalistas, quando não apoiam seus desejos golpistas. Esse espírito desagregador alimenta esse clima de conflito político.

Parece ser algo estratégico, porém extremamente perigoso em todos os sentidos. Tanto pela fragilidade dos seus propósitos (é sabido que não há clima para golpes, até porque não dispõe de força para tanto), quanto para a consolidação da democracia em nosso país, estabelecendo um estado de anarquia. No fim das contas, todos saem perdendo com essa inconsequente disposição em fomentar uma guerra institucional.

Os tribunais superiores afinal decidiram agir como guardiões da nossa Constituição, entendendo que notas de repúdio não bastam. Faz-se necessária uma ação que imprima freios aos arroubos antidemocráticos. Não se trata de uma questão de interesses político-partidários ou ideológicos, mas, sobretudo, de consciência cívica e de responsabilidade nacional comprometida com a democracia e o respeito à Constituição. A nenhum poder deve se dá o direito de ameaçar as instituições democráticas, julgando-se em posição de superioridade perante os demais. Cada um deve agir na conformidade de suas competências determinadas por nossa Carta Magna. Tomara que o presidente, enfim tenha compreendido isso e possamos voltar a viver um clima de harmonia e de paz, sem receio de que os ímpetos golpistas ganhem força. E que ao povo permaneça a autoridade maior de decidir, através de eleições diretas, seus representantes, tanto no poder executivo, quanto no legislativo, sem que arranjos no sistema eleitoral sejam adotados para atender interesses pessoais ou de grupos.

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INTELIGÊNCIA VERSUS INSENSATEZ Por Rui Leitão

Todos nós temos a ideia falsa de que pessoas inteligentes são sensatas. Nem sempre. Aliás, estamos vivenciando um tempo em que aumenta cada vez mais o número de indivíduos apontados como de bom nível de inteligência se comportando fora do que possa ser considerada atitude de bom senso. O que tem concorrido para que isso esteja acontecendo? Motivados por causas abraçadas de maneira apaixonada, abrem mão da própria racionalidade, perdendo a capacidade de discernimento.

Chegamos ao entendimento de que a inteligência não é necessariamente condição para que alguém seja sensato. Na convivência social encontramos muita gente que se acha inteligente e age com surpreendente desorientação racional. Encontram dificuldade em perceber o que é certo e o que é errado, o que é falso e o que é verdadeiro, o que é bom e o que é ruim. Incrivelmente passam a integrar o grupo dos “sem noção”, porque decidiram assumir a defesa de “pontos de vista” que fogem ao lógico, ao coerente. Tem, inclusive, quem, mesmo considerado inteligente, contraria o que nos ensina a ciência.

Fecham os olhos e se tornam impermeáveis à compreensão advinda das experiências, influenciados por interesses que lhes são momentaneamente convenientes. E não se envergonham em empunhar bandeiras que comprometem o conceito de inteligência que buscam apresentar. Seguem na marcha da insensatez pensando exclusivamente em si próprios, desprezando princípios que deveriam ser inflexíveis, como a ética, a moral, a verdade, a honestidade da consciência.

A insensatez é incompatível com a inteligência humana. Na seara política essa incompatibilidade se evidencia escancaradamente. São gritantes as manifestações de auto-engano, em prejuízo do equilíbrio racional, privilegiando informações que fortalecem crenças previamente estabelecidas. Surgem daí convicções seletivas, ainda que distantes da realidade facilmente perceptiva. É a recusa em aceitar o óbvio que não seja útil aos seus objetivos.

O problema é que muitos confundem conhecimento intelectual com inteligência. A intolerância e o negacionismo, por exemplo, são manifestações de desinteligência que muitos dos que se afirmam cultos praticam. Não basta ter sabedoria, é preciso saber usá-la. Há uma frase budista que acho bastante interessante para essa reflexão: “Os insensatos, que acreditam serem sábios, são inimigos de si mesmos; fazem más ações, das quais, por fim, só colhem frutos amargos”. Manter-se vítima da própria mentira, é a maior prova de que a insensatez não se harmoniza com o conceito de inteligência.

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O acerto até nas divergências Por Rui Leitão

O acerto até nas divergências

Por Rui Leitão

Tenho acompanhado com muito interesse as sessões da CPI da Pandemia. A cada depoimento somos convencidos do quanto foi acertada a decisão de instalar essa comissão parlamentar de inquérito. As revelações feitas, algumas propositadamente e outras por descuido do depoente, municiam a constatação de que a pandemia não tem sido tratada pelo governo federal com a responsabilidade que essa crise sanitária exige. Essa verdade fica cada vez mais evidente.

Acho que os integrantes da comissão têm conduzido bem a investigação a que se propõem.  Com extrema competência estão sabendo colher os elementos que comprovam, não só as omissões do governo, mas também as atitudes e discursos negacionistas contrários às medidas restritivas de proteção à saúde da população, promovendo campanhas em total desobediência às orientações da ciência e da medicina.
Os senadores comprometidos responsavelmente com a apuração de uma realidade que a cúpula governamental tenta, a todo custo, esconder, acertam até quando divergem entre si. Foi o que vimos quando do depoimento do ex-secretário de comunicação, Fábio Wajngarten, que chegou à comissão com a determinação de mentir o quanto pudesse, desde que não comprometesse o presidente da república e seus ministros. Por incompetência não conseguiu fazer isso a contento, foi flagrado na mentira durante toda sua fala, cometendo o crime de falso testemunho. Todas as suas afirmações foram desmentidas na própria sessão.

 

Isso ensejou o pedido de prisão do depoente, na conformidade do que estabelece o artigo 342 do Código Penal que diz textualmente: “ É tipificado como crime, fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral”. O pedido do relator, senador Renan Calheiros, foi reforçado por outros senadores presentes à sessão. Estavam certos. De fato o ex-secretário cometeu em flagrante o crime de falso testemunho. A falta de reprimendas legais ao comportamento pautado na mentira, poderia ser considerado um precedente perigoso e comprometer o seus resultados.

 

Todavia, o presidente da CPI, senador Omar Aziz, não acatou a solicitação, o que, no meu entendimento também acertou. A prisão do antigo assessor do governo seria aproveitada pelo bolsonarismo como uma medida que tentariam caracterizar como perseguição política. Era a vitimização que explorariam nos discursos dos fanáticos apoiadores do governo. O presidente agiu com sabedoria, preferindo aceitar a sugestão do senador Humberto Costa, determinando o encaminhamento dos autos do depoimento, na íntegra, ao Ministério Público para que sejam tomadas as providências cabíveis no sentido de promover a responsabilização, inclusive com a aplicação de penas restritivas de direito por cometimento do crime de falso testemunho perante a CPI.

A decisão salomônica do senador Omar Aziz servirá como advertência para os próximos depoentes, na orientação de que não podem faltar com a verdade, sob pena de sofrerem sanções penais previstas em lei. A CPI caminha bem na apuração das responsabilidades governamentais no enfrentamento da pandemia. Considero este um momento histórico da vida nacional.

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O GOLPE DE 64 ; Por Rui Leitao

O GOLPE DE 64 ; Por Rui Leitao
No dia primeiro de abril de 1964 o Brasil acordava com as notícias de que estava deflagrado um movimento de deposição do presidente João Goulart, com tropas militares mineiras avançando em direção ao Rio de Janeiro, onde ele se encontrava naquela madrugada. Muitos brasileiros torciam para que o noticiário a respeito não passasse de uma brincadeira do “dia da mentira”. Infelizmente não era. Portanto, a data do golpe não foi 31 de Março, mas os autoproclamados revolucionários, procurando livrar o episódio de possíveis gozações, decidiram adotar esta data como a oficial do evento.
O espectro do golpe de Estado já rondava o Palácio do Planalto desde a posse de Jango na Presidência de República. Havia por parte dos diversos segmentos da burguesia, articulados com setores da imprensa, empresariado, ruralistas e o clero conservador, um movimento de reação contra as reformas de base que seu governo procurava implementar. A tônica dos discursos era a corrupção, a subversão e a ameaça de comunização. As crises econômico-financeira e político-institucional vividas à época ajudavam as classes dominantes, através de suas forças políticas, a produzirem um sentimento de oposição ao governo. Na verdade, motivando as manobras golpistas, estava a manifestação de temor das elites com as mudanças sociais que ameaçavam seu poder econômico
A redução das desigualdades sociais se apresentava como um perigo para a manutenção das forças conservadoras no controle da vida nacional. Era preciso frear uma revolução socialista que se propunha ser efetivada. A partir dessa pregação, mobilizaram parte da opinião pública para alguns grandes movimentos de rua, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que aconteceu em 19 de março, em São Paulo, com a presença em torno de quinhentas mil pessoas. A estratégia de convencimento popular contou com a colaboração dos principais órgãos de imprensa do país, inclusive dando ampla repercussão a essas organizadas movimentações de rua, na intenção de passar para o resto do país a impressão de que as massas apoiavam a insatisfação com o governo.
O golpe iniciado pelas Forças Armadas, teve continuidade no parlamento, com o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, decretando a vacância da presidência da república, na oportunidade em que Jango se deslocava para o Rio Grande do Sul. Estava aí consolidado o golpe civil-militar, que nos levou a viver duas décadas de uma ditadura que queremos esquecer. A democracia estava derrotada, na ocasião em que pela ruptura da ordem jurídica, se fazia a substituição de um presidente legitimamente eleito pelo voto popular. Atos de mudança de governo que se caracterizam pela ilegitimidade e desrespeito aos preceitos constitucionais, não têm outro nome, é golpe. Por isso, é inapropriado classificar aquele acontecimento, como os militares por muito tempo fizeram, de um ato revolucionário.
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A MORTE QUE INCENDIOU O BRASIL;  Por Rui Leitao 

A MORTE QUE INCENDIOU O BRASIL;  Por Rui Leitao

Há exatamente cinquenta e tres anos, num final de tarde, alguns estudantes planejavam uma passeata programada para o dia seguinte, exigindo melhorias nas condições de higiene do restaurante Calabouço, localizado no Aterro do Flamengo, quando policiais invadiram o local usando da violência. Os estudantes secundaristas que diariamente jantavam ali, foram surpreendidos com o ataque e tentaram se defender reagindo com o arremesso de pedradas.

Foi o suficiente para que disparassem vários tiros contra eles. Entre os estudantes presentes, estava o jovem de dezesseis anos, Édson Luís de Lima Souto, atingido por uma bala no peito que lhe causou morte imediata. Viria a ser o fato determinante de uma grave crise que viveria o país. O corpo do estudante foi levado nos ombros pelos colegas até a Assembleia Legislativa onde passaria toda a noite sendo velado por milhares de pessoas, num clima de muita tensão e revolta. Os teatros cariocas, ao tomarem conhecimento do assassinato, suspenderam seus espetáculos e convocaram os expectadores a participarem do velório.

O enterro do estudante foi acompanhado por mais de cinquenta mil pessoas, cujo cortejo percorreu várias ruas do Rio de Janeiro, recebendo a solidariedade da população por onde passava. Iniciava-se, naquela oportunidade, em todo o Brasil, um período de grande agitação que perdurou por todo o ano de 1968. Em João Pessoa os estudantes do Liceu realizaram comício relâmpago em frente ao colégio, na Avenida Getúlio Vargas, no momento em que Édson Luís era sepultado. Discursos inflamados das lideranças estudantis paraibanas defendiam a decretação de uma greve geral em solidariedade ao movimento paredista que sinalizava acontecer em todo o Brasil.

A manifestação foi improvisada pelos alunos do curso noturno do Liceu, mas logo recebeu a adesão de outros educandários e dos que frequentavam as escolas no período diurno. A vida brasileira foi incendiada por sucessivos acontecimentos que envolviam não só estudantes, mas também os intelectuais e as organizações sindicais. Na Paraíba não foi diferente. Os estudantes nas ruas e a repressão do governo acontecendo, de forma violenta, constituíram=se marcos históricos do enfrentamento à ditadura militar em nosso Estado. O assassinato do estudante Édson Luís causou forte repercussão nos meios políticos.

A Assembleia Legislativa da Guanabara, para onde o corpo foi levado e permaneceu até a hora do sepultamento, abriu sessão em caráter extraordinário com sucessivos e exaltados discursos dos parlamentares em solidariedade aos estudantes que ocupavam as escadarias do edifício, na Avenida Floriano Peixoto. Osmar de Aquino em discurso na Câmara Federal, afirmou: “A juventude que tem sido a grande vanguarda da libertação nacional, tem sido vítima de uma real perseguição. É a luta do velho contra o novo, do reacionarismo mais primário contra o futuro”.

Na Paraíba, o deputado estadual Mário Silveira em discurso declarou: “Esses arreganhos de prepotência, esses insultos ao direito do homem e do cidadão, são uma prova de que este dispositivo montado em 1964 está sofrendo um processo de decomposição”. A comoção nacional continuava. As agitações estudantis deixavam o governo em regime de alerta. O movimento ganhava apoio importante de parcelas da sociedade que passavam a reconhecer os estudantes como seus representantes nas manifestações de oposição ao regime. A tragédia do Calabouço potencializou a insatisfação geral contra a ditadura.

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A PERVERSIDADE DO NEGACIONISMO: Por Rui Leitao

A PERVERSIDADE DO NEGACIONISMO: Por Rui Leitao
O negacionismo é, em síntese, a opção pela ignorância, quando se coloca em xeque preceitos básicos concebidos pela ciência no mundo. É a prática de montar estratégias para criar dúvidas com interesses políticos, elaborando teorias conspiratórias na procura de explicações para o inexplicável. A tentativa de produzir influência na opinião pública, provocando discussões ideológicas. A teimosa recusa em enxergar a realidade que desagrada, com o objetivo de dar legitimidade aos governantes com posições obscurantistas.
Polêmicas retóricas e desnecessárias ganham espaços no debate político. O intuito é diminuir a confiança na ciência. Apoiam-se em argumentos superficiais sem qualquer comprovação, fazendo uso oportunista das mentiras. Tornam-se céticos quanto à serventia da ciência. Não se pode desconhecer que as incertezas se fazem necessárias, até para que a ciência faça novas descobertas. O que não se concebe é fomentar a descrença nos ensinamentos científicos porque não se consegue enfrentar as verdades que se tornam ameaças.
O negacionista se comporta de maneira confusa propositadamente. Na ausência da sensatez, procede de forma arrogante e prepotente na afirmação de suas opiniões. Principalmente pela impossibilidade de se mostrar racional, equilibrado emocionalmente para entrar num debate em que sejam apresentadas divergências de seus pontos de vista. É o jogo da intimidação no desejo de inibir as alegações discordan
tes. Intolerante e preconceituoso, faz uso do mecanismo da negação como proteção da personalidade insegura.
O obscurantismo intelectual esforça-se para demolir a ciência no Brasil. De qualquer forma temos assistido uma reação da comunidade científica em relação a essa postura. Pesquisadores e entidades unem-se para combater a praga da desinformação. Estudos científicos são intensificados com a intenção de oferecer conhecimento aos desorientados. Os movimentos anticiência que temos assistido, patrocinados por autoridades constituídas, estimulam uma espécie de ignorância que atenda os interesses dos que proferem seus discursos. Nessa luta do conhecimento contra a incultura, tem que ser vitorioso o lado da ciência, sob pena de sofrermos graves danos sociais.
Alguns abraçam a ideologia negacionista por ingenuidade, outros, porém, por pura maldade. Fogem da racionalidade para atuarem em obediência a lógicas emotivas. Tornam-se vulneráveis às manipulações de consciência. Não estão preocupados com a possibilidade de que as mentiras em que passaram a acreditar e propagar coloquem a vida de outros em risco. O negacionismo é um processo socialmente induzido que pode resultar em violências físicas e emocionais. Evidencia-se forte rejeição às reflexões que possam levar o indivíduo ao exercício do senso crítico. O negacionista costuma agir como se tivesse direitos excepcionais. E, por isso mesmo, não se constrange em violar regras morais e éticas de convivência social. O impressionante é que não se dá conta de que está dando força a projetos de autodestruição, com requintes de perversidade, considerando que sua forma de agir causa malefícios coletivos.
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A IGUALDADE DE GÊNERO Por Rui Leitao

A IGUALDADE DE GÊNERO Por Rui Leitao
Somos diariamente impactados pelo noticiário que mostra o quanto a violência contra as mulheres tem se acentuado no Brasil. Isso está diretamente relacionado com o que chamamos de “misoginia”: desprezo e ódio contra as pessoas do gênero feminino. São agressões físicas e psicológicas, abusos sexuais, torturas, dentre outras violências que têm vitimado as mulheres em nosso país.
Esse grave problema que vivenciamos tem suscitado debates sobre os direitos e questões de valores das mulheres. Embora ainda haja muita gente que acha que os homens são melhores e mais capazes que as mulheres. Tem até quem defenda salários menores para elas “porque engravidam”! Mas vem de longe esse preconceito. O alemão Schopenhauer dizia que “a mulher, por natureza, deve obedecer”, ressaltando o conceito machista de que elas deveriam se manter sempre numa posição de submissão aos homens. Por muito tempo a inferiorização da mulher foi encarada com naturalidade, alicerçada em princípios patriarcais. Eram tratadas como moral e intelectualmente inferiores aos homens.
O capitalismo industrial, ao se consolidar, desvalorizou a mão de obra feminina, uma vez que prevalecia o pensamento dos que ainda hoje defendem que não se deve pagar salários iguais para os homens e as mulheres. Só em 1960 quando começou a nascer a discussão sobre a igualdade dos papéis sociais, as mulheres passaram a conquistar espaços antes nunca permitidos. O Movimento do feminismo liderado por Simone de Beauvoir despertou a necessidade da luta contra todas as formas de opressão que historicamente eram exercidas sobre elas. As principais bandeiras de luta levantadas foram para por um fim na violência doméstica, da cultura do estupro, pela liberdade sexual e o combate às desigualdades salariais. O empoderamento da mulher ganhou importância nos debates da esfera política. Foi aí que conquistaram o direito de votar. Não obstante tantos avanços, a mulher brasileira continua sendo vítima de um tratamento desigual no mercado de trabalho. Ainda hoje recebem trinta por cento a menos que os homens no desempenho dos mesmos cargos.
É necessário reagir contra todo e qualquer discurso que busque atingir a dignidade feminina. Não permitir que os misóginos tentem impor suas idéias preconceituosas em desfavor das mulheres. É necessário que elas se voltem contra os que não lhes dão a importância e as desrespeitam. Não se concebe admitirmos que alguém diga que o nascimento de uma filha foi resultado de uma “fraquejada” do pai. A visão de gênero que vem sendo reformulada de geração a geração, produz uma consciência lúcida de que estamos trilhando o caminho que objetiva a igualdade. Essa é uma reflexão que não pode ficar fora da pauta política. O mundo contemporâneo exige uma postura de respeito e consideração às mulheres.
A baixa representatividade feminina em cargos públicos de relevância acontece em razão da histórica exclusão delas na atividade política. As cotas eleitorais estabelecidas não têm permitido aumentar a chegada das mulheres aos cargos de atuação política. Isso tem, consequentemente, refletido na formulação e execução de políticas públicas que considerem as questões que interessem diretamente às mulheres. Os direitos das mulheres precisam ser pautados nas discussões políticas em nosso país, de forma a que elas se tornem menos vulneráveis a ofensas à sua dignidade.
Não se pode negar a importância da presença e mobilização das mulheres nas instâncias de representação do poder público, impondo um equilíbrio da participação feminina na democracia, influenciando diretamente na formação de agendas temáticas decisórias.
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O EMPODERAMENTO DOS IDIOTAS:  Por Rui Leitao 

O EMPODERAMENTO DOS IDIOTAS:  Por Rui Leitao

O idiota, por natureza, é um sujeito que vive permanentemente a ansiedade em se tornar destaque, ainda que sendo protagonista do ridículo ou da irresponsabilidade. Faz parte do seu caráter. Como estamos assistindo existir uma “onda da ignorância”, esse tipo de gente tem se revelado com muito maior intensidade. Neles a estupidez é motivo de orgulho. O pior é que muitos estão conseguindo vencer na vida com esse comportamento.

Na imaginação deles estão apenas sendo polêmicos, ainda que explicitamente inconsequentes. Nas redes sociais se manifestam como muito mais desenvoltura. Sem sombra de dúvidas, esses desequilibrados mentais são estimulados a agirem de forma a se colocarem como perigosa ameaça ao convívio democrático. Não se constrangem em proclamar discursos de incitação à violência, à intolerância e ao ódio perante as divergências. A internet se apresentando como terreno fértil para a idiotice.

O grave é que estão se C e conseguindo avançar aproveitando-se da passividade dos omissos e dos acovardados. Percebe-se uma colaboração silenciosa de boa parte da sociedade para que tenham voz com audiência. Os desatinos por eles produzidos são encarados com impressionante naturalidade. O processo de imbecilização do país vem ousadamente crescendo.

A prisão do deputado Daniel Silveira, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, oferece uma expectativa positiva de que começarão a enfrentar a reação dos sensatos e cautelosos. Os idiotas precisam perceber que não estão mais tão protegidos quanto pensam. Os que se julgam donos da verdade, produtos da cultura da desinformação, se verão confrontados com a força e a coragem dos que estão determinados a desmascará-los. É chegada a hora de fechar os espaços para que os idiotas não continuem a conquistar empoderamento.

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CANÇÕES QUE FALAM POR NÓS “MINHA HISTÓRIA”: Por Rui Leitao 

CANCOES QUE FALAM POR NÓS
“MINHA HISTÓRIA”: Por Rui Leitao
Nesta série de crônicas tenho procurado interpretar letras de canções genuinamente brasileiras, mas resolvi fugir à regra, em razão da profunda mensagem deixada na música “Minha história” de Chico Buarque. A sua gênese vem da Itália, nos anos de 1943, quando Lucio Dalla e Paola Pallottino, compuseram “Gesú Bambino”, que quer dizer “menino Jesus”. Fala sobre as mães solteiras, no período da Segunda Guerra Mundial, que engravidavam de soldados estrangeiros. Na letra os italianos procuraram observar o contexto na visão dos próprios filhos.
Chico, amigo de Dalla, decidiu adaptá-la à nossa realidade, tomando como cenário o cais de um porto. O protagonista da história, também chamado Jesus, é filho de uma prostituta, e vive o drama de não saber quem é o seu pai, que pode ser um dos muitos marinheiros que passaram pelos cabarés frequentados por sua mãe. Chico resolve colocar “Minha história” como título de sua versão. A censura da ditadura militar proibiu por um tempo a sua veiculação, por entendê-la atentatória aos bons costumes e à moral. Coisa de mentes doentias dos que tinham a responsabilidade de analisar a produção cultural da época.
“Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar/Eu só sei que falava e cheirava e gostava do mar/Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente/E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente…”
O menino convivia com sua dor, sua angústia de não conhecer pai, nem ter esperanças de conhecê-lo um dia. Só sabe que era um marinheiro, como tantos a que estava acostumado ver no ambiente portuário. Com as características próprias dos marujos, tatuagem nos braços, ouro nos dentes, e cheirando ao mar. Foi por um desses homens que sua mãe se apaixonou perdidamente e daí foi gerado. Fruto, portanto, de uma relação sem amor, circunstancial, comercial.
Nada fora da normalidade daquela ambiência. Os marinheiros transitam por lá e vão embora sem desejos de constituírem vínculos. Entretanto, sua mãe se apaixonara por um deles, que vem a ser o seu pai desconhecido. E nesse amor não correspondido, ela ficava horas a fio contemplando o mar, sonhando com seu retorno. A imagem de uma mulher que fazia do sexo profissão, desencantada, pobre, mal vestida, na esperança permanente de ver de volta aos seus braços aquele que continua no seu pensamento.
Ao nascer, sua mãe viu o filho como se fosse algo divino, um santo, como qualquer outra mãe. Acolheu-o envolto num manto, na ternura materna olhando-o com veneração. Lembra que quando ia colocá-lo para dormir ouvia como cantigas de ninar as músicas que faziam sucesso nas noites dos cabarés. Não conhecia canções de acalanto.
Ela parecia alucinada com a chegada do filho. Chamava a atenção de todos, tentando mostrar que ali estava alguém especial, diferente de qualquer outra criança. Para ela tinha algo de excepcional, sagrado. E foi por isso que resolveu colocar nele o nome de Jesus. Talvez para assim tentar afastá-lo do pecado original na sua concepção, redimir-se de alguma culpa pela forma como ele foi gerado.
A sua história entra em confronto com o nome que carrega. Sabe que não honra no seu comportamento e nas suas atitudes a importância do nome que lhe colocaram. A contradição: o pervertido, por força das companhias do cotidiano, amantes e ladrões, sendo chamado pelo nome de quem a humanidade reconhece como o filho de Deus feito homem. No entanto assim é tratado por todos, Menino Jesus. Quem sabe a intenção de sua mãe foi evitar que fosse chamado de outra forma como tantos outros em igual situação que moravam no porto. Pelo menos o livrou de ser apontado como o “filho da p…”.
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