PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. O Samdu, na General Osório Sérgio Botelho

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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. O Samdu, na General Osório
Sérgio Botelho – O prédio que se vê na foto (o qual, um pouco mais recentemente, abrigou o Colégio Regina Coeli, de Odésio Medeiros), situado na Rua General Osório, foi endereço, nas décadas de 1950 e 1960, do Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (SAMDU).
A iniciativa do governo brasileiro, em 1949, durante a presidência de Eurico Gaspar Dutra, tinha o objetivo de fornecer atendimento médico de urgência, no domicílio, para segurados e beneficiários dos Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, Comerciários, Bancários, Marítimos e Empregados em Transportes e Cargas e da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos. O SAMDU, subordinado ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, era disposto em “comunidades de serviços”, nessas instituições, cada uma com seu diretor médico e tesoureiro. A gerência ficava por conta de um diretor escolhido entre os médicos efetivos dos institutos e caixas, e contava com uma equipe de profissionais de saúde dedicados ao atendimento de urgências médicas.
O SAMDU foi implementado em diversas cidades brasileiras, entre as quais João Pessoa, ao longo das décadas de 1950 e 1960, obedecendo à orientação de atender regiões onde a industrialização e a urbanização demandavam suporte emergencial mais eficaz. Com o passar dos anos, enfrentou desafios operacionais e financeiros, levando à sua desativação gradual. Findou extinto pelo Decreto-Lei 72, de 21 de novembro de 1966, que unificou os Institutos de Aposentadoria e Pensões e criou o Instituto Nacional de Previdência Social. Contudo, a criação e operação do SAMDU representaram um marco na história da saúde pública no Brasil, evidenciando a preocupação do Estado em oferecer assistência médica de emergência à população, servindo de desbravador no processo de implementação de iniciativas modernas de atendimento pré-hospitalar, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), implementado em 2004.
www.reporteriedoferreira.com.br Por Sergio Botelho- Jornalista, poeta, escritor



PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. A Bica Por Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. A Bica
Sérgio Botelho
– Os anos 1920, conforme a gente vai entendendo, foram particularmente importantes para a cidade de João Pessoa. A capital paraibana terminou a década muito beneficiada no que tange à construção e alargamento de ruas e praças. Mas também na edificação de prédios ainda hoje de forte impacto na urbe pessoense.
As culturas do açúcar e do algodão garantiram os recursos. Entre as boas obras daquela década, uma delas foi a do Parque Arruda Câmara, popularmente conhecido como Bica. A popularidade do nome vem de uma fonte no local, oficialmente conhecido como Fonte de Tambiá (com direito a encantadora lenda indígena), que durante muito tempo abasteceu de água potável grande parte da população da cidade de Parahyba , hoje João Pessoa.
O nome do parque homenageia o botânico paraibano de Pombal, Manuel Arruda Câmara, senhor de notáveis serviços prestados ao naturalismo e à própria história nordestina. Ao ser projetado e, enfim, inaugurado, o Parque Arruda Câmara ensejou a preservação de área da antiga Mata do Róger, baluarte natural da Mata Atlântica na capital paraibana. Desde sua inauguração, com breves períodos destinados a serviços corriqueiros ou de recuperação e ampliação, a Bica é um destino diário, de passeio e contemplação, muito amado pelos pessoenses.
Da criançada, especialmente, aos adultos. É possível dizer, sem medo de errar, que são provavelmente muito poucos os moradores de João Pessoa que ainda não conheceram o parque e não gozaram as suas belezas. Dos ricos aos pobres. Portanto, um dos espaços públicos mais democráticos da capital paraibana. Por conta de suas árvores devidamente identificadas, de suas fontes e de animais resgatados de atividades ilegais, a Bica também serve, destacadamente, como um ambiente de estudos, sendo, por isso, alvo de constantes excursões estudantis. Ademais, sua localização é bastante central e de facílimo acesso, desde o Parque Solon de Lucena, o coração da cidade, onde os ônibus dos diversos bairros têm ponto de embarque e desembarque de passageiros. A Bica é um espaço de pertencimento aos pessoenses.
Sérgio Botelhi- advogado, poeta,escritor



PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Romaria da Penha Sérgio Botelho

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Romaria da Penha
Sérgio Botelho – Não chega a se comparar ao Círio de Nazaré, em Belém do Pará, que reúne gente na casa dos milhões, em todo segundo domingo do mês de outubro de cada ano.
Mas a Romaria da Penha, em João Pessoa – que neste 2024 sairá pela 261ª vez, a ocorrer na noite de 23 de novembro (sábado), encerrando na madrugada do domingo -, é uma das mais importantes manifestações religiosas nordestinas. Realizada também anualmente, a manifestação católica reúne centenas de milhares de fiéis, que percorrem aproximadamente 14 quilômetros, em um trajeto que vai da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, no Centro, até o Santuário de Nossa Senhora da Penha, na Praia da Penha.
Mas que, nos primeiros anos do Século XX, também partia em bandeira da Igreja de São Vicente de Paulo, em Tambiá. A Romaria da Penha se configura como uma das devoções marianas mais populares no Brasil. Conta a tradição que o templo, inicialmente uma capela, foi construído em 1763, por marinheiros que se consideraram salvos de um naufrágio, após a intercessão de Nossa Senhora da Penha. Na época, a atual Praia da Penha era conhecida por Praia do Aratu (uma espécie de caranguejo). Durante a peregrinação, os fiéis carregam velas, ex-votos, estandartes e imagens religiosas, transformando aquele trecho de João Pessoa num verdadeiro espetáculo devocional.
A romaria não é apenas um evento religioso, mas também cultural, atraindo pessoas de outros estados. Além da caminhada noturna, a programação, que, este ano, tem início em de novembro, inclui missas, novenas e outras atividades religiosas, antecedendo o dia da romaria, com o apoio de autoridades locais para garantir a segurança e o bem-estar dos participantes. A Romaria da Penha reforça tradições e mantém viva a espiritualidade de milhares de pessoas, que enxergam na peregrinação uma forma de expressar a fé.
Foto divulgação da Arquidiocese.
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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Antigos Hospital de Caridade e Asilo de Loucos Sérgio Botelho

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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Antigos Hospital de Caridade e Asilo de Loucos
Sérgio Botelho
– Pensar em atendimento à saúde pública, na velha cidade da Parahyba, atual João Pessoa, implica relembrar a existência dos antigos Hospital de Caridade (o Santa Isabel) e Asilo de Loucos (o Hospital Sant’Ana). Essas instituições, únicas a atenderem aos pobres e miseráveis, até início do Século XIX, eram vinculadas à Santa Casa da Misericórdia, criada em Portugal no ano de 1498 e estabelecida no Brasil a partir de Olinda, em 1534, enquanto, na Paraíba, no final, dos mesmos anos 1500.
A instituição Santa Casa, vinculada ao catolicismo, sempre se caracterizou como associação de leigos dedicada exatamente a obras de caridade e assistência social. Na atual João Pessoa, a Santa Casa pôs em funcionamento aquelas duas instituições, que existiram no Centro da cidade, em terrenos vizinhos à Igreja da Misericórdia, entre as atuais ruas Duque de Caxias e Visconde de Pelotas, e a Praça André Vidal de Negreiros, o famoso Ponto de Cem Reis, onde também havia um cemitério. (Em 1859, chegaram a ser visitadas por Dom Pedro II). Isso, até o governo (1889-1891) de Venâncio Neiva, o primeiro da Paraíba após a Proclamação da República, lhe doar amplo terreno, no sítio de Cruz do Peixe. Enquanto o Hospital de Caridade se ocupava de pobres e miseráveis doentes, o Asilo de Loucos adquiria características de verdadeiro calabouço.
Afinal, nos anos 1800, a visão sobre os problemas psiquiátricos conduzia bem mais à punição do que à cura. As pessoas com doenças mentais eram frequentemente vistas como possuídas por demônios, criminosas ou simplesmente preguiçosas. Nesse complexo hospitalar, findavam atendidos, juntos e misturados, “loucos” e variolosos, afora outras doenças, num resultado caótico que refletia a precariedade do sistema de saúde da época. Dessa forma, compondo ambiente marcado pela insalubridade, com muita facilitação ao contágio. Um dia, o Asilo de Loucos cedeu lugar ao Juliano Moreira, noutro espaço da urbe. O Santa Isabel é hoje um hospital municipal, ainda em Cruz do Peixe. O antigo complexo da Santa Casa (foto), no local, está sendo vendido.
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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Pesca da Baleia em Costinha Sérgio Botelho

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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. Pesca da Baleia em Costinha
Sérgio Botelho
– Corria o ano de 1958 quando a Companhia de Pesca Norte do Brasil (Copesbra), endividada junto ao Banco do Brasil, passou ao controle de uma joit-venture nipo-brasileira, a Nichirei Kabushiki Kaika Corporation. O negócio se ocupava da pesca da baleia, possibilitando pequena imigração, ao Brasil, de japoneses especialistas na atividade.
Entretanto, a caça ao cetácio é antiga em território brasileiro, remontando, segundo historiadores, ao início do Século XVII. De fato, durante o período colonial, o óleo de baleia foi amplamente utilizado no Brasil como fonte de iluminação. Naquele período, a caça às baleias acabou como atividade econômica importante nos litorais da Bahia, do Rio e de Santa Catarina. Na Paraíba, a cargo da Copesbra, a pesca da baleia existiu, em dimensões empresariais, com hiatos nas duas grandes guerras, desde 1912, com sede mesmo em Costinha, que já foi distrito de Santa Rita.
Mas com a Nichirei Kabushiki é que a história tomou vulto. A empresa modernizou a pesca, utilizando tecnologias avançadas para a época, como navios baleeiros equipados com canhões e arpões explosivos. Vendia-se, além do espetáculo turístico macabro de recorte das baleias, a carne, a carnarina (um pigmento com propriedades cosméticas e de tinturaria), o charque e a carne de sol, e até farinha de ossos, empregando cerca de 300 operários. O período foi marcado pela captura de grande número de baleias, principalmente da espécie jubarte. A partir da década de 1970, a atividade começou a enfrentar crescente oposição de organizações ambientalistas e da opinião pública internacional, preocupadas com a sustentabilidade do negócio e o bem-estar das baleias.
Em 1987, acabou a caça comercial de baleias no local. Naquele ano foi promulgada a Lei n. 7.643, estabelecendo a proibição da “pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras”. Hoje, a praia de Costinha é um destino turístico conhecido por atrações naturais. A antiga estação baleeira da Copesbra virou ruínas, servindo como lembrete do passado da região.
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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. De Parahyba a João Pessoa

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Foto- Teatro Santa Rosa
PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. De Parahyba a João Pessoa
Sérgio Botelho – No dia 1º de setembro de 1930, uma segunda-feira, perante assistência a lotar completamente o Teatro Santa Roza, os deputados estaduais paraibanos aprovaram projeto de lei mudando, de Parahyba para João Pessoa, o nome da capital do estado. No palco, os parlamentares, todos de pé. “Grupos de moças lindíssimas (sic) se colocaram ao lado dos deputados que entraram a ser aplaudidos pela assistência”, conforme descreveu matéria de A União, na edição da terça-feira, 02 de setembro de 1930.
Aprovação unânime. Antes disso, em 31 de agosto, um domingo, após manchetes diárias de A União, desde que o presidente João Pessoa fora assassinado, em 26 de julho daquele ano, uma autêntica procissão conduziu um retrato do governante assassinado entre a Escola Normal, na Praça João Pessoa, até o Clube Astrea, na Duque de Caxias. Na ocasião, “o povo de cabeça descoberta, no mais absoluto respeito, caminhava pelas ruas da cidade cantando o Bendito do Civismo que é o Hino da Pátria.
Era como se ali fosse a imagem de um santo levado em procissão nos braços dos fiéis”, narrava a emocionada reportagem de A União da terça-feira, 2. Para o dia 4 de setembro, ficou reservada a sanção governamental ao projeto aprovado, legalizando em definitivo a mudança do nome da capital. Estava no exercício do cargo o que fora vice de João Pessoa, Álvaro Pereira de Carvalho (1885-1952), que só duraria no posto até 4 de outubro daquele ano, quando abandonou a política e foi morar em Santos (SP), substituído por José Américo de Almeida, designado pelo movimento vitorioso.
“Nenhuma homenagem de maior significação cívica poderia ser prestada ao grande mártir da democracia, ao eminente estadista vítima do ódio dos políticos desalmados do que dar à capital do seu Estado o nome do maior vulto dos nossos dias”, rezava a matéria de A União, a anunciar a sanção. Na hora, perante assistência que lotava o Palácio, “uma senhorinha entregou ao presidente Álvaro de Carvalho uma caneta de ouro adquirida pelo povo para que s. exc. assinasse a lei de mudança do nome da capital”, relatou A União, do dia 5. Foi assim.
Teatro Santa Roza, onde aconteceu a sessão da Assembleia Legislativa que mudou o nome da capital.
Por Sérgio Botelho- Jornalista, poeta, escritor.



UAS HISTÓRIAS. A pioneira Rádio Clube da Paraíba Sérgio Botelho

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UAS HISTÓRIAS. A pioneira Rádio Clube da Paraíba
Sérgio Botelho – Aproveito o domingo para falar sobre importante capítulo na história da Comunicação da atual cidade de João Pessoa, no campo da radiodifusão. Refiro-me à Rádio Clube da Paraíba, que, apesar de sua breve existência, ocupa lugar memorial significativo.
Fundada bem no início da década de 1930, foi a primeira iniciativa de radiodifusão no estado, abrindo caminho para o desenvolvimento do rádio local. A emissora surgiu da iniciativa de um grupo de entusiastas, à frente os irmãos Monteiro. Operando com equipamentos rudimentares, afora recorrentes interrupções de energia na cidade, portanto, de forma bem próxima do artesanal, a Rádio Clube transmitia sua programação basicamente por meio de alto-falantes espalhados em praças pessoenses, alcançando um público limitado. Havia bem poucos aparelhos receptores de rádio (acostumados a ouvir a Rádio Clube de Pernambuco), com certa dificuldade técnica de captar a emissora local.
A sede ficava em uma casa no bairro do Roger, na ex-avenida Miramar, hoje Gouveia Nóbrega. Mesmo com limitações técnicas, a Rádio Clube da Paraíba, que tinha como slogan “A voz de Filipeia”, transmitindo em ondas de 1.200 kilohertz, mantinha programação, em determinados horários do dia, adredemente anunciada em A União. A grade, embora simples, incluía música, notícias, debates e outros conteúdos que informavam e entretinham a população, além de promover artistas e intelectuais locais.
Na época, já estava em gestação uma das mais relevantes iniciativas culturais da capital paraibana, a Orquestra Tabajara, que, em suas formações originais, frequentou os “estúdios” da Rádio Clube. Cantores, cantoras e musicistas pessoenses, também se apresentavam com alguma regularidade na Rádio Clube. Particulares emprestavam discos, e a velha Gravadora Odeon compareceu com muitos deles à emissora. Em 1937, os fundadores da Rádio Clube doaram seus equipamentos ao governo do estado, que criou a Rádio Difusora da Paraíba, posteriormente renomeada para Rádio Tabajara, iniciando nova e gloriosa história no meio cultural e político do estado.
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Ode a Tambaú Por Sérgio Botelho

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Ode a Tambaú
Por Sérgio Botelho
Eita Tambaú querida,
Quantos sonhos embalaste!
E em tua cama de areia
Quantos amores ligaste!
Ligaste na lua cheia,
Com teus sussurros ousados,
Transformando amores vãos
Em delírios impensados.
Delírios com procedência
Nesse teu jeitão selvagem,
Pois o progresso do entorno
Não te viola a paisagem.
Paisagem tão venerada,
Que até as ondas bravias,
Ao lhe tocarem a praia,
Tratam de ser mais macias.
Macias porque respeitam
Tua encantada beleza,
Que na orla da cidade
Te dá destaque e nobreza.
Nobreza feita de adornos
De barcos e pescadores
Que no teu largo sereno
Cultivam dores e amores.
Dores e amores herdados
Da terra e altos mares,
Da vida de todo dia,
De lidas peculiares
Peculiares segredos
De ordem santa e profana,
Preservados na memória
Da gente paraibana.
Por Sérgio Botelho- Jornalista, poeta, escritor



PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. As velhas retretas pessoenses Sérgio Botelho

Na foto, o Pavilhão do Chá, atualmente.
PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. As velhas retretas pessoenses
Sérgio Botelho
– Concorridas eram as retretas nas atuais praças João Pessoa (antiga Comendador Felizardo) e Venâncio Neiva, na primeira metade do Século XX. Os referidos eventos, geralmente animados pelas bandas da Força Pública (Polícia Militar) e do 22º Batalhão de Caçadores (depois 15º Regimento de Infantaria), criavam um ambiente propício para o encontro de jovens (destacadamente) e adultos.
Naquele período histórico, onde as normas sociais eram bem conservadoras, as retretas ofereciam chance legítima e socialmente aceita para que a sociedade interagisse. As famílias frequentemente compareciam em conjunto, mas era natural que os jovens encontrassem momentos para trocar olhares, sorrisos e iniciar conversas sutis sob a atmosfera envolvente da música ao vivo. A disposição espacial das retretas, em torno do coreto, na Praça João Pessoa, e do Pavilhão do Chá, na Venâncio Neiva, permitia livre circulação dos participantes.
As moças, sobretudo, deixavam o confinamento, somente aliviado pelas janelas de suas casas, onde se debruçavam para observar os passantes, e, quem sabe, estabelecer alguma paquera. Na retreta, o ambiente descontraído atenuava as rígidas barreiras sociais vigentes, tornando o flerte mais fácil. Além disso, a música desempenhava papel catalisador nesses encontros. Canções românticas ou melodias conhecidas estimulavam as conversas.
As retretas das praças João Pessoa e Venâncio Neiva, portanto, foram verdadeiros pontos de convergência social. Em muitas narrativas familiares, antigamente, era comum ouvir histórias de casais que se conheceram ou estreitaram laços, naquelas circunstâncias. Dessa maneira, o significado das antigas retretas da cidade reside na criação de um espaço onde a música e a convivência social se encontravam, permitindo que relações pessoais florescessem em ambiente acolhedor e festivo, além dos limites residenciais. Elas representam um capítulo importante na história das relações sociais e comunitárias, na capital paraibana.
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PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. A Festa das Neves tem data oficial de origem Sérgio Botelho

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FOTO: Ortilo Antônio, de A União.
PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS. A Festa das Neves tem data oficial de origem
Sérgio Botelho
– Muito se discute sobre a origem da tradicional Festa das Neves, em João Pessoa, que ocorre normalmente entre 27 de julho e 5 de agosto. O ponto alto do evento coincide com a data da conquista da capitania, 5 de agosto, justamente o dia dedicado à padroeira Nossa Senhora das Neves.
Assim procediam os portugueses com a nomeação de suas descobertas e inaugurações topográficas. Assim, logo nos primeiros meses, foi erguida, no alto da colina, que assomava junto ao Rio Sanhauá, o nosso berço, uma capela bem simples, bem tapera, a ela dedicada. Após demolições e reformas, no correr dos séculos, a igreja foi concluída, nos moldes atuais, em 1881, conforme está inscrito na parede da entrada do templo, à direita.
Sabemos que as celebrações em honra aos santos e santas sempre ocupam destaque na prática religiosa da Igreja Católica. Ainda mais quando definidas ou definidos como padroeiras ou padroeiros, ou seja, protetoras ou protetores de uma cidade, região ou país. Dessa forma, é de se supor que desde os primeiros anos de existência da cidade, ainda nos finais dos anos 1500, na data de 5 de agosto, tenham sido prestadas regulares homenagens à Nossa Senhora das Neves, ao menos na forma das tradicionais novenas.
No entanto, a eminente parte profana assumida pela data parece ter origem oficial na lei 870, de 24 de novembro de 1888, já proclamada a Lei Áurea, e cerca de 7 anos após inaugurada a nova igreja dedicada à padroeira, quando presidia a província, ainda no período monárquico, Manoel Dantas Correia de Góis, nascido mesmo na cidade de Parahyba (atual João Pessoa), dessa forma, identificado com as tradições da urbe. A referida lei declarou como “feriado e de festa estadual o dia 5 de agosto em comemoração da conquista da Parahyba”, sendo clara, port anto, sobre a motivação cívica do “feriado e da festa estadual”.
Como as duas coisas, a conquista e a data da padroeira, existem historicamente uma em função da outra, começaram para valer os festejos, ainda à luz de lampiões e candeeiros, que, sem o feriado decretado, certamente não teriam o mesmo brilho e participação. Seja como for, temos dia, ano e mês, com feriado e tudo, e de âmbito estadual, para remontar nosso calendário, e temporalizar a mais pessoense das festas profano-religiosas da cidade, tradicionalmente sediada na atual Avenida General Osório, o que não acontece mais.
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