A TENTAÇÃO AUTORITÁRIA E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA Por Rui Leitao 

A TENTAÇÃO AUTORITÁRIA E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA Por Rui Leitao

As instituições democráticas passavam por um processo de degradação em um recente período histórico de nosso país. O discurso da antipolítica contribuía para isso. Era como se quisessem afirmar que a democracia seria um estímulo à prática da corrupção, tentando passar a impressão de que se tratava de um sistema nocivo à sociedade. Vivíamos, assim, uma democracia sob pressão.

O ambiente tornava-se solo fértil para os populistas. Percebia-se, nitidamente, que havia um projeto político no sentido de “esticar a corda” para testar nossa capacidade de manter o Estado Democrático de Direito. Estabelecia-se, propositalmente, um clima de tensão. Incentivava-se a desordem política, com o objetivo de provocar o caos que justificasse medidas de força — reflexo do saudosismo da ditadura militar.

Arquitetava-se a manipulação de mentes, com a intenção de colocar o povo contra a democracia, alimentando a ideia de que se fazia necessário impor alternativas autoritárias. Narrativas falsas desrespeitavam verdades incontestáveis, com o propósito de minar a confiança popular nas instituições democráticas. Verificavam-se situações de incoerência, quando víamos as mesmas pessoas que ainda manifestavam apoio ao sistema democrático assumirem, paradoxalmente, posições de desconfiança em relação às suas instituições. Atitudes contraditórias, impulsionadas pela alienação produzida deliberadamente na consciência popular.

A imagem do “outsider”, dizendo absurdos inimagináveis, conseguia ser aceita e até aplaudida por uma parcela da população que se colocava contra as instituições democráticas. Essa era uma disposição crescente nas sociedades contemporâneas: o exercício de um tipo negativo de democracia, uma espécie de “democracia da rejeição”. Estava em curso um projeto de rompimento dos acordos históricos e institucionais que resultaram na redemocratização do país.

O processo democrático exige mais do que sua simples definição como regime político. Requer o envolvimento público com suas instituições, bem como o acompanhamento atento dos cidadãos quanto ao desempenho dos governos e dos poderes constituídos. A desconfiança nas instituições políticas é um fator prejudicial à consolidação da democracia.

Foi uma experiência dolorosa, mas conseguimos vencê-la. A luta, contudo, continua: os inimigos da democracia permanecem insistindo em atacá-la, ainda que hoje se encontrem em posição minoritária na opinião pública.

Ditadura, nunca mais.

www.reporteriedoferreira.com.br Por Rui Leitão- advogado, jornalista, poeta, escritor