O PERFIL DA BURGUESIA BRASILEIRA Por Rui Leitao
O PERFIL DA BURGUESIA BRASILEIRA Por Rui Leitao
Os interesses de classe da burguesia brasileira, bem como seus vínculos com o capital internacional, não se coadunam com qualquer concepção de justiça social em nosso país. Ela sempre atuou no sentido de instrumentalizar o Estado contra os trabalhadores. O mais grave é que se apoderou dos principais meios de comunicação, transformando-os em uma espécie de quarto poder: o poder midiático.
Cresceu e ganhou força na década de 1930, apoiada pelas oligarquias dissidentes. A partir dos anos 1950, associada à burguesia monopolista estrangeira — em razão das mudanças no sistema capitalista mundial —, estabeleceu sua própria dominação sob a tutela do novo Estado latifundiário.
Manifesta-se na economia por meio da ação dos latifundiários, do empresariado e do mercado financeiro, todos a serviço do capital estrangeiro. Herdou uma ideologia marcada pelo conservadorismo das antigas classes dominantes. Submissa ao mercado externo, demonstra pouco ou nenhum interesse no desenvolvimento do mercado interno, pois teme ser marginalizada do sistema imperialista ao qual está vinculada. A burguesia brasileira obedece fielmente às orientações do mercado capitalista neoliberal e, por consequência, causa prejuízos aos trabalhadores ao propor políticas que visam à redução dos direitos sociais.
É preciso aprender com os erros históricos que levaram o movimento operário a formar frentes políticas com esse setor. Essa aproximação jamais viabilizou reformas que, de fato, trouxessem benefícios aos trabalhadores. Não há como deixar de reconhecer que a burguesia nacional é, em essência, a detentora do capital. Por isso, é ilusório imaginar que qualquer aliança com a burguesia possa resultar em vantagens reais para as camadas mais pobres da nação.
Para melhor compreensão da história, da economia e da política em nosso país, é fundamental conhecer o perfil da burguesia brasileira, com suas contradições e desafios. Os grupos que a compõem são os autores intelectuais das políticas econômicas implementadas pelos governos ao longo da nossa história, por serem os responsáveis pela maior parte da produção e da distribuição de bens e serviços no Brasil.
No campo político, a fina flor do PIB nacional age nas sombras, demonstrando, estrategicamente, uma aparente tolerância a governos de esquerda — enquanto não consegue impor maior relevância na estrutura de poder —, tentando golpear a democracia. Basta observar as tragédias históricas que vivenciamos: o golpe de 1964, a deposição da presidente Dilma Rousseff em 2016 e a tentativa de ruptura do Estado Democrático de Direito liderada pelo ex-presidente da República, após sua derrota nas urnas, em 2022.
O mais preocupante é que tudo isso ocorreu com a passividade das camadas mais pobres da população. Portanto, é necessário manter, sempre aceso, o sinal de alerta, para que não sejamos novamente surpreendidos por eventos que atentem contra a democracia.
www,reporteriedoferreira.com.br/ Rui Leitão- advogado, jornalista, escritor



