“AINDA ESTOIU AQUI”, UM FILME IMPACTANTE Poe Rui Leitão

Publicado no jornal A UNIÃO edição de hoje

“AINDA ESTOIU AQUI”, UM FILME IMPACTANTE

Assisti ao filme “AINDA ESTOU AQUI”, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em diferentes fases da vida, como também por Selton Mello, no papel do ex-deputado Rubens Paiva. A película teve roteiro baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, com destaque para a força com que sua mãe, Eunice Paiva, enfrentou o drama de ser uma mulher que perdeu o marido, sequestrado e morto pela ditadura militar, em 1970, assumindo, não só a responsabilidade de cuidar, sozinha, dos cinco filhos, órfãos de pai desaparecido, como também se tornando uma ativista dos direitos humanos, lutando, incansavelmente, pela verdade sobre o paradeiro de seu marido.

O filme é impactante e está sendo exibido em todos os cinemas do país num momento muito oportuno, quando se faz necessário desenvolver uma luta para anular o esforço da extrema direita nacional em silenciar e apagar da nossa memória, a experiência traumática que a sociedade brasileira viveu nos chamados “anos de chumbo” da ditadura militar. O entulho autoritário e a ideologia dos militares da época permanecem latentes até a contemporaneidade, fazendo com que estejamos sempre vendo a nossa democracia ameaçada de novos golpes.

“AINDA ESTOU AQUI” provoca os expectadores a fazerem uma profunda reflexão sobre um tempo que deixou tristes marcas. Muitas pessoas permanecem, até hoje, sem ter notícias dos seus familiares desaparecidos após serem presos. Causa indignação constatar que os crimes cometidos nesse período, continuam impunes, nos oferecendo a convicção de que a anistia produz movimentos de renovação dos atos golpistas pelos mesmos criminosos.

Foi emocionante ver o público, que se fazia presente no cinema, ao final da exibição do filme, gritar “ditadura nunca mais”, “sem anistia para os criminosos”, numa manifestação de desaprovação ao legado ideológico do regime de força imposto pelo golpe de 1964. Preservar a memória histórica relacionada à ditadura é fundamental para que sejam evitadas novas práticas ditatoriais.

Cada vez mais me convenço do quanto isso se torna importante e urgente. Os brasileiros que não experimentaram os 21 anos em que o país esteve mergulhado num regime de exceção, fortemente marcado pela supressão de direitos e pelas arbitrariedades praticadas pelo Estado, têm o direito de conhecer, em detalhes, o que aconteceu nesse período, criando, assim, condições de promover reparação simbólica para aquelas e aqueles que sofreram.

Tenho procurado fazer a minha parte. Em 2013 publiquei o livro “1968 – O Grito de Uma Geração ” que narra, em ordem cronológica, tudo o que ocorreu naquele ano. Em dezembro lançarei novo trabalho literário de resgate da memória desse tempo sombrio de nossa história, intitulado ‘Eu Vivi a Ditadura Militar”, com o propósito de contribuir para despertar uma consciência coletiva de reconhecimento dos traumas acarretados à sociedade brasileira pela ditadura militar instaurada pelo golpe de 1964. Rever essa fase truculenta de nossa história é colaborar com o fortalecimento do processo democrático que vem sendo atacado.

Por Rui Leitão- Advogado, jornalista, poeta, escritor