A MUDANÇA DA POSIÇÃO DA CNBB
A CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – CNBB, foi criada com a intenção de manter a unidade da Igreja frente às divergências entre os chamados católicos progressistas e conservadores, verificadas no contexto social e político observado na sociedade brasileira entre as décadas de 1940 e 1950.
Em abril de 1963, a Comissão Central da entidade emitiu uma mensagem sobre a situação do país, em que afirmava: “as desigualdades sociais não levam à paz anunciada e desejada, mas destacam os grandes entraves de um país subdesenvolvido, em que as massas populares não participam do processo brasileiro, onde subsistem a miséria e a mortalidade no meio rural e urbano”. O governo Goulart entendeu nessa declaração pública que a Igreja Católica havia assumido apoio às Reformas de Base.
No entanto, um ano depois liderou a Primeira Marcha pela Família com Deus pela Liberdade, onde segmentos da classe média e religiosos saíram às ruas protestando contra posições do governo que acreditavam ser a instalação da desordem e da degradação da família no país. A CNBB, então, mostrava-se numa postura de ambigüidade diante da conjuntura política da época.
Dois meses após o golpe militar, em 1964, um documento episcopal foi dado a conhecimento público com o seguinte teor: “Atendendo à geral e angustiosa expectativa do povo brasileiro, que via a marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder, as Forças Armadas acudiram em tempo, e evitaram que se consumasse a implantação do regime bolchevista em nossa terra. De uma a outra extremidade da pátria, transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada”. Estava explícito o apoio de boa parte da Igreja ao golpe, passando a conviver pacificamente com o regime ditatorial.
Com a eleição em 1968 de Dom Aloiso Lorscheider como secretário geral da CNBB, embora tendo apoiado o golpe militar nos primeiros anos do regime, setores da Igreja Católica assumiam posições mais críticas. Em 1970, a Assembleia Geral dos Bispos, produziu um documento em que denunciava as torturas, mesmo que ainda num tom ameno. Ainda predominava uma preocupação em manter diálogo com os militares, evitando conflitos diretos.
Em 1972, Dom Paulo Evaristo Arms assumiu a presidência da CNBB, provocando uma profunda mudança na maneira da Igreja agir. Bispos começaram a se manifestar denunciando os atentados aos direitos humanos e exigindo a volta à democracia. O primeiro documento neste sentido é do episcopado do estado de São Paulo, “Testemunho de Paz”, Ao tomar conhecimento da prisão de um padre e uma assistente social vinculada à Igreja, Dom Paulo Evaristo Arms, foi ao DOPS para visitá-los e constatou que haviam sido vítimas de tortura. E no domingo seguinte encaminhou mensagem a todas as paróquias da Arquidiocese denunciando o que tinha testemunhado e fez contundente manifestação contra o caráter ditatorial do regime.
Nos primeiros anos da ditadura os bispos católicos estavam agrupados em três alas. Uma era denominada ala progressista, da qual participavam três nordestinos: Dom Hélder Câmara, da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom José Maria Pires, da Arquidiocese da Paraíba e Dom Fragoso, da Diocese de Crateús, no Ceará. A imprensa alinhada ao governo, passou a classificá-los como os “bispos vermelhos”. Eles pregavam contra a violência do governo e a injustiça social provocada pelo modelo econômico praticado. O segundo grupo era conhecido como “conservador”, tendo Dom Geraldo de Proença Sigaud, arcebispo de Diamantina, como a liderança mais destacada. Qualificava como subversiva a ameaça comunista e hipotecava apoio ao governo. A terceira ala era chamada de moderada, composta por bispos que se omitiam em assumir posições políticas publicamente, embora defendessem mudanças na área da política social. Por isso, estavam mais próximos dos progressistas e se solidarizavam quando havia reação diante das violações aos direitos humanos.
A 15ª. Assembleia da CNBB, realizada em Inadaiatuba (SP), em fevereiro de 1977, aprovou por 270 votos a 3, um documento, que resultou num acordo entre progressistas e conservadores, admitindo o Estado de Exceção e condenando sua manutenção em nome da segurança nacional “A segurança, como bem de uma nação, é incompatível com uma permanente insegurança do povo. Esta se configura em medidas arbitrárias de repressão, sem possibilidades de defesa, em internamentos compulsórios, em desaparecimentos inexplicáveis, em processos e inquéritos aviltantes, em atos de violência praticados pela valentia fácil do terrorismo clandestino e numa impunidade frequente e quase total.”, afirmava no texto publicado.
E assim se manteve até 1985, firme em defesa dos direitos humanos, dos presos políticos, dos povos indígenas e dos trabalhadores.
www.reporteriedoferreira.com.br Rui Leitão- advogado, jornalista, pçoeta,escritor