Ascensão de Motta ao comando da Câmara causa reviravolta em Brasília
Nonato Guedes
A possibilidade de eleição do deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos, como presidente da Câmara na sucessão de Arthur Lira (PP-AL) agita os meios políticos em Brasília e mobiliza líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao contar bastidores de uma conversa que teve com Lula sobre a candidatura de Motta, Marcos Pereira disse à Globonews que o presidente aprovou o nome. “Eu disse: “presidente, tenho um coringa, um trunfo que eu acho que pode ser a solução”, relatou Pereira, acrescentando: “E o presidente me disse: ‘Está bem, se você está referendando, pode ir ao Arthur (Lira) e dizer que não tenho nada contra”. O parlamentar ainda pretende conversar pessoalmente com o atual presidente da Câmara sobre o aval de Lula e tentar conciliar interesses de bastidores. Ele sinalizou que tem a intenção de conseguir apoio de pelo menos oito partidos para que o nome de Motta seja consenso.
Marcos Pereira desistiu de disputar a presidência da Câmara em 2025 e declarou apoio ao líder do seu partido, na Câmara, Hugo Motta, por acreditar que ele tem mais chances de vencer a disputa, porém, ressalta que Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, “é um nome forte” para suceder Lira. De forma reservada, parlamentares do União informaram ao “Congresso em Foco” que a decisão de Marcos Pereira de retirar sua candidatura para apoiar Hugo Motta não mudará a estratégia do União Brasil, que conservará o apoio ao seu líder Elmar Nascimento. O fato concreto é que o representante da Paraíba está no páreo, é visto como favorito e agrega apoios importantes, em virtude do livre trânsito que detém nas esferas de poder. Remanescente do “baixo clero”, Hugo Motta já fez parte da tropa de choque do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), que foi mentor do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas o parlamentar é reconhecido pela sua habilidade política e pelo protagonismo que alcançou. Ele chegou à Câmara aos 21 anos, idade mínima para exercer o mandato, em 2010, eleito com 86.150 votos. Filho e neto de deputados, com origem em Patos, nas Espinharas, concluiu o curso de Medicina paralelamente à atuação na Câmara, estando a uma semana de completar 35 anos.
O deputado Hugo Motta fez parte da base dos governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Eleitor declarado do ex-presidente, aproximou-se de Lula depois que o seu companheiro de partido e Câmara Sílvio Costa Filho assumiu o Ministério dos Portos e Aeroportos. Sua capacidade de dialogar com lideranças governistas e oposicionistas foi o principal motivo que levou Marcos Pereira a indicar o nome ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que enfrenta dificuldade para emplacar seu postulante preferido, o baiano Elmar Nascimento, que esbarra na resistência do Planalto e de parlamentares de várias bancadas. De acordo com o “Radar do Congresso”, Hugo Motta votou conforme a orientação do governo Lula em 86% das vezes, índice pouco abaixo de Marcos Pereira, que registrou 91%. Na média, o índice de governismo da Câmara é de 79%. Em 2016, então deputado federal pelo MDB, ele votou pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Mesmo com a ida de Sílvio Costa Filho para o governo, Hugo Motta sempre preferiu intitular a bancada que lidera como independente.
Em setembro de 2023, numa entrevista ao “Correio Braziliense”, ele explicou: “A nomeação de Sílvio Costa Filho foi muito mais pessoal do presidente pela relação que o deputado tinha com o PT, com Lula, muito antes de vir para o Republicanos. A indicação chegou à bancada de forma satisfatória, a bancada ficou feliz com essa indicação. Mas o Republicanos não altera a sua posição de independência. Vamos ter também autonomia de ficarmos contrários a pautas que, porventura, venham ao plenário da Câmara dos Deputados e não estejam no manifesto do partido”. Hugo Motta já havia manifestado o desejo de concorrer à presidência da Câmara, mas só admitia a possibilidade de levar o plano adiante se recebesse o apoio de Marcos Pereira. A este colunista, durante um evento pré-junino em João Pessoa este ano, o parlamentar ressaltou que se sentia prestigiado pelo presidente do seu partido em missões desenvolvidas na Câmara e que não havia a menor possibilidade de abrir confronto com ele pelo comando da Câmara. Salientou, entretanto, que se tivesse o apoio da cúpula do seu partido, assumiria a disputa pela sucessão de Arthur Lira. Ele também aguarda a adesão de duas das mais poderosas bancadas da Câmara, a evangélica e a ruralista, das quais faz parte. Ele saiu em defesa das duas bancadas, numa entrevista, ao criticar o que chamou de interferência do Supremo Tribunal Federal nos assuntos legislativos.
Além de ter votado pelo impeachment de Dilma, Hugo Motta presidiu a CPI da Petrobras, que terminou com o pedido de indiciamento de 70 pessoas, entre elas, ex-diretores e gerentes da estatal e o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto. Ainda filiado ao MDB, partido que deixou para se filiar ao Republicanos em 2018, votou a favor das principais pautas do governo de Michel Temer, como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma tributária. Igualmente votou contra o pedido do Ministério Público para investigar o então presidente da República. No governo Bolsonaro, assumiu relatorias de propostas importantes, como a PEC Emergencial da Pandemia e a PEC dos Precatórios. Votou a favor da privatização dos Correios e comandou a comissão para privatização da Eletrobras. Já no governo Lula, apoiou o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, medidas defendidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O pai de Hugo Motta, Nabor Wanderley, é prefeito da cidade de Patos, cidade que já foi administrada pela avó materna do deputado, Francisca Motta, atual deputada estadual. Em 2022, ele conquistou o quarto mandato à Câmara com 158.171 votos.