Sucessão na Câmara tem reviravolta e Hugo Motta entra no páreo com chances
A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados ganhou novos contornos na noite de ontem, em Brasília, com o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, deixando a disputa em favor de uma costura em torno do correligionário Hugo Motta, da Paraíba. A iniciativa foi definida em acordo com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que defendia o nome de Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, para ocupar o cargo. Elmar, no entanto, enfrenta resistências de parte dos colegas, em especial da base governista, segundo revela uma reportagem do UOL.
A articulação em torno do nome do deputado Hugo Motta se dá por causa da resistência do presidente do PSD, Gilberto Kassab, em retirar a candidatura do deputado Antônio Brito (PSD-BA) da disputa em favor de Marcos Pereira. A expectativa é que a indicação de Motta promova o consenso entre diferentes alas que se opõem ao presidente do Republicanos no comando da instituição. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme as versões, não se opõe ao nome de Hugo Motta. O Republicanos integra o governo, com o ministro Silvio Costa Filho ocupando a pasta dos Portos e Aeroportos. Hugo Motta foi um dos parlamentares paraibanos convidados a acompanhar o presidente Lula na visita ao Estado na semana passada, quando cumpriu agenda administrativa com o governador João Azevêdo (PSB).
De acordo com o UOL, uma ala que se posicionava contra a eleição de Marcos Pereira tem feito pressão ao longo dos últimos meses para que ele saísse da disputa em favor de Hugo Motta. O entendimento é que seria mais fácil fechar consenso em torno do deputado do que do presidente do partido e, assim, manter o acordo para que a legenda ocupe a presidência na próxima legislatura. Um líder político diz que, pelas contas atuais, Marcos Pereira teria apenas cerca de 50 dos 513 votos dos deputados, enquanto Elmar e Brito teriam 150 cada.
Arthur Lira pretendia anunciar o apoio a Elmar Nascimento nesta quarta. A eleição está marcada para fevereiro de 2025, mas a sucessão influencia o jogo de forças dos partidos. Líderes partidários tiveram diversas reuniões ao longo do dia, em Brasília, ontem. Kassab se reuniu com Lula para discutir a sucessão e ouviu um pedido de tirar a candidatura de Brito. A resposta foi negativa. Na sequência, os três postulantes se encontraram: Marcos Pereira, Brito e Isnaldo Bulhões Jr., do MDB. A tendência era dos dois primeiros manterem seus nomes. Isnaldo era considerado sem chance e lançava seu nome para valorizar o passe do MDB. Durante a noite, as tratativas tomaram um novo rumo. Para usar o termo político, Marcos Pereira resolveu “fazer um gesto”. Ele abriu mão da disputa na expectativa de que os demais pré-candidatos façam o mesmo para que haja um nome de consenso e a presidência da Câmara fique com o Republicanos. A situação não é ruim para o Planalto. O partido tem ministros, não há resistência de Lula e Marcos Pereira havia sinalizado que aceitaria fazer o “L” de Lula e de Lira para ser presidente.
O acordo no Republicanos teve o dedo do maior expoente do partido, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele entrou em campo com o principal objetivo de tornar um deputado do Republicanos o próximo presidente. Marcos Pereira resistia a ceder a vaga a outro parlamentar do partido. Ele sempre sonhou com o cargo e havia dito nos bastidores que “era agora ou nunca”.
Hugo Motta sempre foi apontado como um nome com mais chances de angariar apoio. Para não alimentar uma possibilidade de traição, Pereira prometeu o comando do partido a Motta caso vencesse a disputa. O impasse reinante expôs o atual presidente Arthur Lira, pois a eleição do indicado por ele era considerada uma demonstração de força do parlamentar até o fim do mandato no comando da Casa. No entanto, a falta de consenso em torno de Elmar, que é um amigo pessoal de Lira, deixou o presidente da Câmara vulnerável. Lira havia dito que anunciaria até o fim de agosto o nome que iria apoiar, e todas as sinalizações apontavam para Elmar. Os outros candidatos, no entanto, não tinham cedido até então; por diversas vezes, disseram que não deixariam a disputa. A fim de reduzir as resistências, Lira se reuniu com Lula e outros caciques partidários. Não houve jeito e agosto terminou sem a indicação do nome do sucessor.