PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS. Castro Alves e Maciel Pinheiro Por Sérgio Botelho

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS. Castro Alves e Maciel Pinheiro Por
Sérgio Botelho
– Há um paraibano (nascido na então Parahyba, atual João Pessoa) muito ilustre e de grande significado para a sua época, chamado Luiz Ferreira Maciel Pinheiro (1839 e 1889), que marcou época na história construída naqueles efervescentes anos de luta pela ideia republicana, ele próprio, um deles, sobre o qual falamos outro dia. Na década de 1860, quando estudava na Faculdade de Direito do Recife, ele foi colega e amigo do poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), embora em torno de 7 anos mais novo que o paraibano.
Pois bem, ainda na época de estudante, Maciel Pinheiro, homem das letras, dos discursos vibrantes e do jornalismo, inscreveu-se como voluntário e foi lutar na Guerra do Paraguai (1864-1870). Foi então que o poeta Castro Alves, que havia chegado ao Recife aos 15 anos, em 1862 (mas que havia recitado sua primeira poesia aos 13 anos, em 1860), para fazer os preparatórios à Faculdade de Direito do Recife, lhe dedicou um poema a celebrar a coragem de Maciel, em várias passagens, assemelhando-o aos grandes heróis da história e da mitologia. O poema está perpetuado no único livro que o poeta baiano publicou em vida, Espumas Flutuantes. Na sequência, o poema de Castro Alves dedicado a Maciel Pinheiro, na íntegra:
Maciel Pinheiro
Dieu soit en aide au pieux pèlerin (Deus acompanhe o peregrino audaz).
Bouchard
Partes, amigo, do teu antro de águias,
Onde gerava um pensamento enorme,
Tingindo as asas no levante rubro,
Quando nos vales inda a sombra dorme…
Na fronte vasta, como um céu de idéias,
Aonde os astros surgem mais e mais…
Quiseste a luz das boreais auroras…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
Verás a terra da infeliz Moema,
Bem como a Vênus se elevar das vagas;
Das serenatas ao luar dormida,
Que o mar murmura nas douradas plagas.
Terra de glórias, de canções e brios,
Esparta, Atenas, que não tem rivais…
Que, à voz da pátria, deixa a lira e ruge…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E quando o barco atravessar os mares,
Quais pandas asas, desfraldando a vela,
Há de surgir-tesse gigante imenso,
Que sobre os morros campeando vela…
Símblo de pedra, que o cinzel dos raios
Talhou nos montes, que se alteiam mais…
Atlas com a forma do gigante povo…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
Vai nas planícies dos infindos pampas
Erguer a tenda do soldado vate…
Livre… bem livre a Marselhesa aos ecos
Soltar bramindo no feroz combate
E após do fumo das batalhas tinto
Canta essa terra, canta os seus gerais,
Onde os gaúchos sobre as éguas voam…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E nesse lago de poesia virgem,
Quando boiares nas sutis espumas,
Sacode estrofes, qual do rio a garça
Pérolas solta das brilhantes plumas.
Pálido moço — como o bardo errante —
Teu barco voa na amplidão fugaz.
A nova Grécia quer um Byron novo…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E eu, cujo peito como ua harpa homérica
Ruge estridente do que é grande ao sopro,
Saúdo o artista, que ao talhar a glória,
Pega da espada, sem deixar o escopro.
Da caravana guarda a areia a pégada:
No chão da história o passo teu verás…
Deus, que o Mazeppa nos estepes guia…
Deus acompanhe o peregrino audaz.
(Castro Alves)
(Nas fotos, da esquerda para a direita, Maciel Pinheiro e Castro Alves)
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