Jackson já admite que Cartaxo não apoiará Cida se ela ganhar as prévias
Nonato Guedes
O presidente estadual do PT, Jackson Macedo, está preocupado com a radicalização interna neste período que antecede a realização de prévias no partido, a ocorrerem em março, para escolha de candidatura própria à prefeitura de João Pessoa no pleito deste ano. Segundo revelou, ontem, em entrevista à rádio Arapuan, Macedo está convicto de que o deputado estadual Luciano Cartaxo não se engajará a uma virtual campanha da deputada Cida Ramos, se esta for vitoriosa nas prévias. Avalia que o parlamentar e ex-prefeito está obstinado em ser o ungido e convencido de que é o único em condições de vencer, tanto as prévias, quanto as próprias eleições. Para Jackson, o cenário não é este, o que sinaliza erro de cálculo de Cartaxo e, ao mesmo tempo, cria dificuldades para uma composição que leve à unidade interna no Partido dos Trabalhadores.
Ele ressaltou que as atitudes que vêm sendo assumidas por Cartaxo contrariam recomendações internas em prol da unidade interna e do debate civilizado entre os postulantes à indicação para a prefeitura. Macedo confia em que a direção nacional do PT terá discernimento para dar o encaminhamento adequado à disputa interna, evitando prejuízos para a legenda, em articulação com o diretório municipal, presidido pelo advogado Marcos Túlio, a quem cabe coordenar a realização das prévias e promover a pacificação nas hostes petistas. Lembrou que se Cartaxo abrir dissidência na hipótese de Cida ser a indicada, estará sujeito a sanções, que se tornarão mais graves caso o deputado e ex-prefeito resolva declarar apoio, dentro do PT, a uma candidatura de outro partido ou aliança. Pessoalmente, descarta uma intervenção da Executiva Nacional no sentido de retirar as pré-candidaturas que estão postas ou de desrespeitar o resultado legítimo que for apontado pelas prévias na Capital paraibana. Dá seu próprio exemplo: embora apoie Cida Ramos e tenha divergências com Cartaxo, fará campanha por Luciano se este, porventura, for sacramentado pelos filiados petistas.
Sob alegação de que não tem “poder de fala” nesse processo, diante do caráter municipal da eleição que será travada, embora tenha influência como filiado histórico do PT e até como seu dirigente na Paraíba, Jackson Macedo citou que a principal bandeira empalmada internamente dizia respeito ao lançamento de candidatura própria a prefeito da Capital, como forma de retomada do protagonismo do partido na Paraíba, num período em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exerce o seu terceiro mandato. Considera que esse requisito foi atendido em plenárias realizadas pela agremiação e, na sequência, com a deflagração do processo de encaminhamento das prévias, mediante registro de duas postulações – as de Cida Ramos e de Luciano Cartaxo. Para Jackson, as regras são bastante transparentes e não há protecionismo, envolvimento ou manobra de cúpula para interferir no resultado da manifestação dos petistas. Isto não impede que haja disputa interna movimentada, com embates entre os postulantes e entre os partidários dos dois postulantes.
No quadro atual que se observa, o presidente estadual do Partido dos Trabalhadores entende que está havendo “exorbitância” por parte de um dos pretendentes – no caso o deputado Luciano Cartaxo, com linguagem considerada agressiva à sua colega Cida Ramos, o que desgasta a imagem da agremiação e cria uma atmosfera de animosidade no PT com consequências imprevisíveis. “O debate que se esperava, dentro de uma tradição que é intrínseca ao Partido dos Trabalhadores, seria em torno de propostas para a melhor administração à frente da prefeitura de João Pessoa, bem como a respeito de questões vulneráveis que afetam a população da Capital e que exigem políticas públicas mais eficientes, com resultados concretos”, ponderou Jackson Macedo. A seu ver, o embate em termos pessoais deve ter limites que não comprometam a possibilidade de unidade futura como saldo da disputa – e lamenta que da parte do deputado Luciano Cartaxo estejam ocorrendo excessos que se dirigem até mesmo a dirigentes petistas. “É uma situação lamentável, que em certa medida nos surpreende”, declarou o presidente estadual da legenda.
No que diz respeito às avaliações preliminares sobre o processo eleitoral de 2024 em João Pessoa os deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos coincidiram apenas num aspecto: o de que o PT não deveria se compor com a candidatura do prefeito Cícero Lucena (PP) à reeleição, bandeira que tem sido agitada, ainda, por segmentos que são ligados ao governador João Azevêdo (PSB) e ao próprio esquema do atual gestor pessoense. Ganhou proeminência, então, o argumento da candidatura própria, a ser definida democraticamente. O diretório municipal passou por renovação, com a ascensão do advogado Marcos Túlio à sua presidência, e desde então tem se mobilizado no sentido de acatar as recomendações decididas e seguir os manuais do Diretório Nacional que, em última análise, pode decidir a sorte do partido em João Pessoa, como já o fez em outras oportunidades. Mas o clima pesado, em grande parte alimentado por Cartaxo e apoiadores, cria um “problemão” e uma incógnita quanto aos rumos que irá tomar a disputa interna em andamento, até porque há figuras de destaque no petismo que por enquanto evitam se manifestar mas que certamente terão peso caso o façam, exemplo do ex-governador Ricardo Coutinho, que acompanha, de Brasília, onde está residindo, a ebulição nas hostes petistas pessoenses.