ENEDINA ALVES – PRIMEIRA ENGENHEIRA NEGRA DO BRASIL
Enedina Alves Marques, paranaense de Curitiba, nasceu em janeiro de 1913. De origem pobre, era filha de um lavrador e de uma empregada doméstica. Foi a primeira engenheira negra do Brasil. Sua vida mudou aos sete anos de idade, a partir do emprego que sua mãe conseguiu na residência do delegado major Domingos Mendonça, que a matriculou no mesmo colégio em que sua filha estudava. Foi então alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund. Em 1931 concluiu curso equivalente ao ensino médio, na Escola Normal de Curitiba.
Professora formada passou a trabalhar no interior do Paraná, no período de 1932 a 1935. Voltando à capital paranaense frequentou um novo curso profissionalizante, mo Colégio Ateneu, época em morou com a família do Construtor Mathias. Para pagar sua estadia, Enedina contribuía com serviços da casa.
Em 1938 começou a fazer o curso complementar em pré-engenharia no Ginásio Paranaense no período noturno, o que lhe permitiu ingressar na faculdade de engenharia da Universidade Federal do Paraná, em 1940. Tornou-se engenheira cinco anos depois, integrando uma turma de 32 formandos, todos homens e brancos. Ao se formar tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas.
Atuou no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica em 1947, trabalhando no Plano Hidrelétrico e no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Pesquisadores da sua biografia contam que ela andava com um revólver na cintura para obrigar os homens ao seu redor a lhe dar atenção, em razão do preconceito que enfrentava, dando um tiro para o alto sempre que precisava falar e não era ouvida.
Na década de 50 viajou pelo mundo, conhecendo outras culturas. Em 1958, tomou conhecimento de que o major Domingos Mendonça, proprietário da casa em que morou na infância, havia lhe incluido como beneficiária do seu testamento ao falecer.
Deixou grande contribuição no levantamento de rios, na construção de pontes e teve papel decisivo na condução das obras para a construção da Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Sousa, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país. Aposentou-se em 1962, recebendo do então governador do Paraná, Ney Braga, por decreto, o reconhecimento dos seus feitos na engenharia, garantindo-lhe uma remuneração equivalente a de um juiz.
Foi encontrada morta no apartamento em que morava no Edifício Lido, no centro de Curitiba, quando tinha 68 anos de idade. Seu túmulo é um dos principais pontos da visita no cemitério municipal da capital paranaense. Em 2020, foi lançado um documentário, batizado de “Além de Tudo, Ela”, em que é narrada a trajetória de Enedina por meio documentos, imagens e entrevistas com uma sobrinha, uma afilhada e um pesquisador.
A história da mulher guerreira foi inspiração para um livro infantil escrito pela professora Lindanir Casagrande, pós-doutora em estudos interdisciplinares sobre mulheres, gênero e feminismos. Ela destaca o pioneirismo da engenheira afirmando: “A universidade não era pensada para mulheres e nem para pretos. Pense: foi uma mulher preta, pobre, filha de escravos libertos que sobreviveu em uma turma com homens brancos da elite. Foi uma batalha muito árdua e significativa. A vida dela não foi fácil. Ela lutou muito para se formar. Foi a única dos sete irmãos, todos homens. Ela era a única mulher. Eles todos trabalhavam e ela foi a única que estudou. Só que antigamente o estudo não era valorizado como é agora.”
Por ocasião das comemorações dos 110 anos de nascimento da primeira engenheira negra do Brasil, foi homenageada pelo Google. O seu nome foi inscrito no Memorial à Mulher, ao lado de outras 53 mulheres pioneiras brasileiras. Em 2006, foi inaugurado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá, que se empenha em combater a invisibilidade racial em diversos setores, como o ambiente escolar e o mercado de trabalho.
Rui Leitão
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