'Cristãos secretos' estão em risco no Afeganistão sob o Talibã
O Antagonista

‘Cristãos secretos’ estão em risco no Afeganistão sob o Talibã

Estimativas sobre a quantidade de cristãos vivendo no Afeganistão –  que não terá seu novo governo reconhecido pela União Européia – oscilam entre 1 mil e 8 mil. Todos eles eram muçulmanos e se converteram ao cristianismo. Como o islamismo proíbe que seus fiéis abandonem a religião — o que é considerado crime de apostasia —, esses cristãos se reúnem clandestinamente em grupos pequenos, de até dez pessoas, dentro de suas casas. Não revelam a própria fé e seus líderes mudam de cidade com frequência. Em outros países, eles são conhecidos como “cristãos secretos“.

“Quando os familiares ou os vizinhos descobrem que um afegão se converteu ao cristianismo, isso é considerado uma desonra muito grande. Eles então tentam reconverter a pessoa à força. Em alguns casos, isso acaba em morte“, diz Marco Cruz, secretário-geral da Portas Abertas no Brasil, uma ONG que ajuda cristãos perseguidos pelo mundo.

Em um ranking dos países mais perigosos para os cristãos feito pela organização, o Afeganistão só fica atrás da Coreia do Norte. Isso ocorre porque, na Coreia do Norte, não é possível sair do país, enquanto no Afeganistão isso ainda era viável até pouco tempo atrás.

Com a tomada de poder no Afeganistão pelo grupo terrorista islâmico Talibã (foto), a situação desses cristãos secretos ficou ainda mais perigosa.

“Eles já viviam em uma situação de muita tensão, e os relatos que temos recebido nos últimos dias indicam que a expectativa é que tudo fique ainda pior“, diz Marco Cruz.

Cruz é cético em relação à tentativa de o grupo se parecer moderado, como a promessa de que permitirá às mulheres estudar e trabalhar, mas “dentro dos limites da lei islâmica“.

“O que isso significa na prática é que, se o marido não autorizar, a esposa não poderá sair de casa“, diz. “É muito difícil acreditar nos discursos de moderação do Talibã. Nós oramos para que ocorra uma melhora, mas o histórico do grupo não nos deixa muito otimista. Além disso, sabemos o que ocorre quando a lei islâmica é implementada.”

No domingo, 15, dia em que o Talibã tomou o controle do país, a organização humanitária Cáritas, ligada à Igreja Católica, anunciou a suspensão de suas atividades no Afeganistão. “Estão crescendo os temores sobre a possibilidade de manter uma presença no futuro, bem como pela segurança dos poucos afegãos de fé cristã”, disse a Cáritas em um comunicado.

Padres jesuítas que estavam no país desde 2004 estavam buscando voar para a Índia. Como os voos foram cancelados, dois deles tiveram de voltar para suas casas e interromperam suas atividades. Quatro freiras estão na mesma situação.

“Eles (os talibãs) não estão fazendo mal aos civis no momento, mas isso acontecerá assim que eles capturarem totalmente todos os sistemas do país”, disse o padre Jerome Sequeira, chefe da Missão Jesuíta no Afeganistão, em um comunicado.

Sequeira disse que o Talibã tem uma lista de todos os funcionários das organizações que atuavam no país. “Em alguns lugares, eles começaram a fazer perguntas de porta em porta sobre as pessoas e as organizações para as quais trabalham”, disse o padre.

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