TELHADO DE VIDRO: Escrito Por Rui Leitao 

TELHADO DE VIDRO: Escrito Por Rui Leitao

Quem tem telhado de vidro, não pode se dar ao direito de jogar pedras no vizinho. Essa é uma grande lição que nos ensina a sabedoria popular. Não demorou vinte e quatro horas para que o presidente da república fosse advertido dessa verdade que a vida vem nos ministrando. Ontem, no seu rotineiro diálogo com os apoiadores que ficam no cercadinho do Palácio da Alvorada, comemorou e parabenizou a Polícia Federal na ação promovida contra seu desafeto político o governador Witzel do Rio de Janeiro. Esqueceu que vive sob um imenso telhado de vidro. Aí vem a lembrança de outro ditado popular: “quem com ferre fere, com o mesmo será ferido”, ou “Nada melhor do que um dia atrás do outro”.

Porque ele hoje não fez o mesmo discurso para seus seguidores fanáticos? Porque a mesma PF que ontem produziu um espetáculo de ataque ao provável cometimento de atos de corrupção do governador carioca, hoje volta-se para acusar procedimentos ilícitos dos que estão ao seu entorno? Seu desejo de ter uma polícia política se desfez ao ver que a instituição decidiu preservar sua independência de atuação. De novo o alerta popular: “O pau que bate em Chico, bate em Francisco”.

De repente ele viu que as coisas não acontecem exatamente do jeito que determina sua vontade. Existem leis a serem observadas. Existe uma Constituição que controla quem governa. Existe um princípio elementar no estado democrático de direito, que é o tratamento igualitário a todos os cidadãos. Ele tem dificuldades em entender isso, em razão de sua proclamada vocação ditatorial.

As instituições democráticas estão funcionando, graças a Deus. Elas não conseguem proteger quem tem um imenso telhado de vidros. Pelo contrário, se não incentivam quem joga pedras nessa cobertura envidraçada, entendem que efeitos bumerangues não podem ser contidos em nome da lei. Não há como proteger os que estão sob a proteção do telhado de vidro, se eles próprios se aventuram em jogar pedras no vizinho. A proteção eventual do exercício do poder, não os deixa invulneráveis aos ataques de revide, quando são frágeis sua guarida. O telhado de vidro não oferece abrigo aos que gostam de trilhar caminhos não recomendáveis.

Se analisarmos direitinho até a casa da justiça tem telhado de vidro. Juízes que usam o estilingue irresponsavelmente, confiando no resguardo da toga, são surpreendidos com alei do retorno. Portanto, não há autoridade que se ache na condição de atirar pedras na vidraça vizinha, sem que corra o risco de imediatamente ter seu abrigo atingido por pedradas dos que elegeu como inimigos. O presidente precisa entender isso. Ele não é resguardado das respostas que possam atingir sua imagem.

www.reporteriedoferreira.com.br    Por Rui Leitã Jornalista-Advogado e Escritor